Um Mundial no inverno que baralha as previsões
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Há um ano, tal como aconteceu agora, o Benfica isolou-se na liderança do campeonato à passagem da quarta jornada. No final da quinta, tinha quatro pontos de vantagem sobre FC Porto e Sporting. Antes de sofrer o primeiro abalo, frente ao Portimonense na Luz, acumulou sete vitórias consecutivas na Liga e um triunfo por 3-0 sobre o Barcelona na Champions. Serve a introdução para sublinhar que esta não é a primeira vez que os encarnados arrancam para a temporada num ritmo superior ao dos rivais, forçados como estão pelo calendário a apresentar-se competitivos desde a primeira hora para garantirem os milhões da liga milionária e, em paralelo, para aproveitarem a proteção que o sorteio do campeonato oferece durante as primeiras jornadas às equipas que disputam pré-eliminatórias europeias. De resto, os últimos dois jogos, e as dificuldades que os encarnados sentiram para vencer, dão conta de uma quebra de ritmo prematura, que dá razão a Schmidt quando o alemão sublinha que ganhar nestas condições pode ser decisivo para a concretização do objetivo de regresso aos títulos. Há um ano, os problemas começaram precisamente quando aquela energia inicial se começou a transformar em cansaço acumulado e o calendário deixou de proteger para passar a castigar. Para ilustrar, é obviamente diferente jogar de três em três dias contra Arouca, Midtjylland e Casa Pia ou enfrentar no mesmo espaço de tempo PSG, FC Porto e Juventus. Claro que nada disso significa que a história se vai repetir. Não há duas épocas iguais e a realização do Mundial no inverno acrescenta uma variável à atual que a torna incomparável à anterior. Novembro e dezembro foram meses terríveis para o Benfica na última época. Este ano, quase não se joga nessa altura. E esse é um detalhe que pode fazer uma grande a diferença se as águias continuarem a ganhar até lá chegarem. Mesmo sofrendo para o conseguirem.
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O mercado fechou e Cristiano Ronaldo ficou em Manchester, agora com o inédito estatuto de suplente. Os últimos resultados do United dão razão às opções de Ten Hag enquanto sublinham as consequências para o avançado português da ausência nos trabalhos de pré-temporada e do impacto motivacional que a tentativa de saída frustrada por ausência de opções provocou. Por tabela, colocam a inevitável questão de saber qual será o estatuto de Ronaldo na Seleção, pelo menos nos jogos do final deste mês para a Liga das Nações. Fernando Santos nunca deixou cair o capitão e é improvável que comece agora. Ao longo de quase duas décadas, houve mais do que uma ocasião em que Portugal andou ao colo de Ronaldo. É normal que, nesta fase mais complicada para o capitão, os papéis se possam inverter. Claro que a insistência na condição de intocável na Seleção é um risco, tanto para o selecionador, como para o próprio jogador. Correndo bem, pode marcar um momento de viragem na época do avançado, proporcionando o regresso a Manchester com um estatuto reforçado que lhe permita arrancar uma temporada ao melhor nível e apresentar-se no Catar como a referência de ataque de que Portugal precisa. Correndo mal, pode aprofundar as dúvidas em torno do momento de forma de CR7 e recolocar o próprio selecionador na linha de tiro dos que reclamam por renovação numa altura em que há muito pouco tempo para mudar de ideias antes do Mundial. Uma dor de cabeça para Fernando Santos resolver durante as próximas semanas.