O Jogo

VIDA NO GUETO TRANSFORMA­DA NUM IMPÉRIO

Serena Williams encerra uma inimitável carreira, iniciada há um quarto de século e junta-se às maiores desportist­as da história

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Foi ao terceiro de um máximo de sete capítulos, que o ténis em particular e o desporto em geral, assistiu, no US Open, à saída de cena de uma mulher que deve tudo a um “delírio” do casal Williams.

MANUEL PÉREZ

●●● Reza a lenda que, em meados da década de 1980, Richard e Oracene Williams estavam a assistir pela televisão à final de um torneio, quando o valor do cheque atribuído à vencedora iluminou o visionário pai que, surpreende­ndo a mulher, atirou: “A Venus e a Serena são as futuras candidatas a esses cheques”. Durante anos, num court público de Crampton, na Califórnia, “King Richard” – título do filme carregado de Óscares, que conta a história da família – foi moldando as filhas perante a adversidad­e, algumas vezes obrigadas abandonar um treino para não se meterem no fogo cruzado. Ontem, em casa e com 80 anos, Richard viu e ouviu Serena a agradecer-lhe, em lágrimas, por torná-la na atleta e na mulher que é, perto dos 41 anos, e deixando como legado um museu repleto de todos os principais troféus.

Essas conquistas estão descritas em todo o lado – incluindo a meio deste texto – e também é conhecido o passado e o presente daquela a quem chamam “Queen”, e que não gosta da palavra “retirada”, substituin­do-a por “evolução”. Um processo que inclui a oferta de irmãos à filha Olýmpia, de cinco anos, e maior atenção às empresas do grupo Serena Ventures, ou não fosse a campeoníss­ima uma multinacio­nal para além dos courts.

A paixão pelo luxo, após a privação que lhe marcou a infância, resulta, em grande, parte dos miminhos que a Nike lhe concede. Nesta passagem pelo US Open, usou um vestido com centenas de diamantes e umas sapatilhas com detalhes em ouro de 1.5 quilates nas palavras “Queen” e “Mama”, para além das iniciais “SW”.

Tratando-se da única desportist­a no top 100 das mulheres mais ricas do planeta e com ganhos avaliados em 260 milhões de euros pela revista Forbes, $er€na possui um portfólio com 60 empresas, desde a criptomoed­a à alimentaçã­o, passando pela psicologia e franquias desportiva­s. Com o seu carisma, mudou a história do ténis, rompeu barreiras sociais e desportiva­s, chegando ao teto do mundo. Ao talento inato para manejar uma raquete – apoiado num físico e mente fortes – uniu o faro para os negócios e, mesmo quando era obrigada a deixar de competir, continuava a ser das mais cobiçadas pelos patrocinad­ores.

“Há muitas coisas pelas quais posso ser recordada. Por exemplo, a minha veia lutadora. Não sei bem... Acho que contribuí com muitas coisas para o ténis”

“Ter jogado a este nível, torna a retirada mais dura”

“Eu nunca seria a Serena que sou sem a Venus; ela é a verdadeira e única razão da existência da Serena Williams”

“Vivi momentos incríveis e não há futuro sem o ténis. Qual o meu papel? Não faço ideia. Acho que estarei envolvida de alguma forma”

“Melhor título? Roland Garros 2015. Quase morri”

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Não foram só rosas a emoldurar a carreira de Serena que, para além das lesões, chegou a afirmar ter estado “literalmen­te no leito da morte”. Foi em 2010, na sequência de uma embolia pulmonar, uma doença que voltaria a atormentá-la, mas sem a mesma gravidade, cinco anos mais tarde, durante o parto
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