O jogo sentido na cabeça
1A pergunta tático-individual que saiu no fim do jogo do FC Porto transformado (em intérpretes, com cinco mudanças no onze, em sistema, o losango abdicou para a versão clássica do 4x4x2) era essencialmente uma: pode Eustáquio ser o nº 8 que a equipa busca para voltar a jogar o seu jogo no seu desenho preferencial? Para já, ganhou, como a sua exibição, o direito de liderar esse “casting tático”. Primeira aquisição de conhecimento em especificidade: em vez de fazer circular bola em passes mais longos (como faz por natureza), sair mais com bola em posse e definir com passes progressivos entrelinhas até surgir na frente com assistências (o ultimo passe para golo).
Não é fácil passar de um “6” de circulação para um “8” de condução na dimensão de equipa grande. Tal exige uma mudança de ritmos de jogo que pode chocar com os “timings” da sua velocidade natural (seja física como a ler e executar). Criar novos hábitos faz, porém, parte da vida e tantas vezes, em tantas situações, isso é a chave do sucesso de adaptação a novos desafios. Eustáquio está perante ele, no “atelier 8” de Conceição.
Tem uma vantagem em relação aos outros médios potenciais candidatos ao lugar: é, com bola, o mais criativo e técnico de todos. 2
Quando falhou aquele penálti, rematando ao lado, sem conseguir calibrar bem o remate - e logo se viu a sua face
distante -, receei que nesses gesto e expressão estivesse algo que se perdera em longas semanas disfuncionais para a sua cabeça. Quando, porém, no último lance do jogo, meteu, num livre ainda distante da área, aquela bola redondinha, na medida e balanceamento certo, sobrevoando toda a equipa vimaranense, para Tormena só encostar, viu-se que, seja mesmo com a semblante fechado, o seu talento é intocável.
Imagino a cabeça de Ricardo Horta dividida. Está em campo e tanto lhe passa por ela, a sua, como a seguir o jogo. É futebolisticamente humano.
Este Braga, porém, tem apelos que o podem fazer superar esse dilema existencial de carreira pelo poder que evidencia. Em vez da consagração num grande, poder lutar pelo titulo num clube que nunca o ganhou e se o chegar a tocar terá nele o herói da História.
Artur Jorge montou um 4x4x2 que tem um... banco de luxo. Só assim foi possível pressionar tanto e encostar às cordas da sua baliza um onze vimaranense tão bem montado por Moreno. Poder meter Abel Ruiz, Djaló e Lainez numa fase dessas dum dérbi tão fechado, atribuiu a este Braga tanto legitimidade como obrigação para ser esse extra-candidato. Soube, também reforçar a defesa neste fim de mercado. Pode parecer estranho mas esta vitória no ultimo minuto (por 1-0) mostrou mais força do que as goleadas anteriores.
O futebol visto dos pés da tática à cabeça: Eustáquio no “laboratório 8” de Conceição e as expressões de Ricardo Horta em Braga