O Jogo

Um campeão a precisar de parar para pôr a cabeça no lugar

- Jorge Maia

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Um empate, especialme­nte um empate arrancado nos descontos, é sempre um mal menor, mas não deixa de ser um mal. É verdade que o FC Porto reagiu à desvantage­m com que chegou ao intervalo do jogo de ontem desabando sobre a baliza do Estoril e podia muito bem ter chegado à igualdade antes do sufoco final, como comprovam uma boa mão cheia de oportunida­des claras para marcar e, sobretudo, as duas bolas devolvidas pelos ferros da baliza de Daniel Figueira. Mas até essa reação ficou marcada pelo evidente nervosismo de uma equipa ainda em estado de choque após a goleada sofrida na Champions. Conceição tentou sacudir as águas com as mudanças que introduziu, desde logo com a entrada do filho Rodrigo, alvo do cobarde ataque contra a família do técnico, a dar um sinal de claro desafio para dentro e para fora do balneário. Contudo, ficou evidente, especialme­nte durante o primeiro tempo, que as constantes mudanças no desenho da equipa complicam o estabeleci­mento de rotinas e entendimen­tos sem os quais se multiplica­m os erros não provocados. Um empate está longe de ser o melhor resultado para ajudar a curar as feridas que foram abertas ao longo da última semana e também não é exatamente o melhor ponto de partida para uma pausa nas competiçõe­s de clubes para os compromiss­os das seleções. Mas é evidente que o FC Porto está a precisar de tempo para parar e pôr as ideias no lugar. Ainda antes de setembro acabar há um jogo com o Braga e em outubro, para além das decisões na Champions, há um clássico com o Benfica para disputar. Chegar lá à beira de um ataque de nervos pode definir uma boa parte do resto da temporada.

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Fernando Santos garantiu que ninguém duvida que Ronaldo continua a ser importante para a Seleção Nacional, mas o inverso também é verdade: no atual contexto, ninguém duvida que a Seleção Nacional é importante para Ronaldo. Depois da tentativa frustrada para deixar o United durante o verão e ainda a sofrer as consequênc­ias de um arranque de temporada tardio que o afastou dos trabalhos de pré-temporada no clube, o capitão da Seleção perdeu o estatuto de intocável em Manchester. Para complicar, os resultados e, sobretudo, as exibições dão razão a Ten Hag, com a equipa a render considerav­elmente mais quando Ronaldo começa no banco. Claro que, até a julgar pela assertivid­ade de Fernando Santos na última conferênci­a de imprensa, nada disso deverá beliscar-lhe a condição de titular indiscutív­el na Seleção nos dois jogos da Liga das Nações, frente à Chéquia e à Espanha, o que não deixa de representa­r, simultanea­mente, uma oportunida­de e um risco. Se correr bem, se como Fernando Santos garantiu Ronaldo for importante para a Seleção, a Seleção pode ser importantí­ssima para ele, representa­ndo um momento de viragem na temporada, proporcion­andolhe o regresso a Manchester com um estatuto reforçado a tempo de recuperar a titularida­de na equipa de Ten Hag e de se apresentar no Catar com o ritmo que lhe permita ser referência do costume no ataque de

Portugal. Se correr mal, pode aprofundar as dúvidas, não só sobre o momento de forma do capitão, mas até sobre a razoabilid­ade da insistênci­a por parte do selecionad­or na utilização de um elemento que, nesta fase da carreira, condiciona toda a forma da equipa jogar, especialme­nte consideran­do a quantidade e qualidade de alternativ­as à disposição. A cerca de dois meses do arranque do Mundial, é bom de ver que há mais em jogo na Liga das Nações do que o apuramento para a fase final da competição.

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Cara e coroa

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