CUSTA MUITO ENGOLIR UMA SAÍDA EM FALSO
ELIMINADOS Um erro defensivo e uma mão cheia de oportunidades desperdiçadas bastaram para Portugal dizer adeus ao sonho de ser campeão mundial
A Seleção Nacional caiu na mesma armadilha com que Marrocos já tinha apanhado a Espanha. Um erro de Diogo Costa e um ataque de pólvora seca explicam a despedida prematura de Portugal ao Catar.
Já dizia Sun Tzu que suprema ●●● arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar. Será um exagero dizer que Marrocos não lutou pelo direito a ser a primeira equipa africana a estar nas meias-finais de um Mundial, mas, tal como já tinha acontecido com a Espanha, os marroquinos não tiveram qualquer problema em entregar todas as despesas do jogo a Portugal para fi
car só com o lucro. Aliás, até por não terem faltado avisos, não deixa de ser significativo que a Seleção Nacional tenha caído direitinha numa emboscada que sabia de antemão estar montada à sua espera. Em boa verdade, o jogo de ontem foi quase tudo o que se esperava dele, com duas exceções relevantes: a saída em falso de Diogo Costa, no lance do golo de En Nesyri que acabou por decidir o jogo e o desperdício de uma boa mão cheia de oportunidades claras para marcar que, apesar da muralha defensiva erguida por Marrocos à frente da baliza de Bono, Portugal conseguiu criar.
Fernando Santos cumpriu quase à risca a regra de não mexer numa equipa que ganha. Rúben Neves no lugar de William Carvalho foi a única mudança em relação ao onze que fez os portugueses sonhar frenteàSuíça.Aentradadomédio do Wolverhampton compreendia-se no contexto do jogo: Portugal, já se sabia à partida,teriamaispossedebolaespecialmentenessazonarecuada do meio-campo, e Neves, mais hábil nos passes em profundidade, podia ajudar a desmontar a muralha defensiva dosmarroquinos.Umbomplano que esbarrou de frente na organização defensiva férrea daequipadesenhadaporWalid Regragui. Portugal teve bola, sim,efê-lacircular,écerto,mas quase sempre em zonas mais protegidas e calculando os riscos ao milímetro. Depois de uma primeira ameaça, logo aos cinco minutos, com um cabeceamento de João Félix a obrigar Bono à primeira de uma mãocheiadedefesasdecisivas, o jogo acabou por ficar amarrado numa espécie de impasse: Portugal dominava, mas era um domínio territorial inconsequente e, em larga medida, concedido por Marrocos, confortavelmente instalado no seu meio-campo.
Com o tempo a avançar, a falta de agressividade na gestão da posse de bola dos portugueses foi dando confiança aos marroquinos. Um par de incursões de Ziyech e Ounahi lançaramosprimeirosalarmes na defesa lusa, mas nem Marrocos investia muitas unidades nesses ataques, nem Portugal deixava de ter o jogo aparentemente dominado. Claro que as aparências iludem. Um cruzamento largo, uma saída em falso de Diogo Costa, En Nesyri nas alturas e estava despejado o balde de água gelada que fez a Seleção tremer até às fundações. Bruno Fernandes ainda teve um remate acidental à barra antes do jogo ir para intervalo, num daqueles momentos que, a esta distância, pressagia o que se seguiria.
Em poucas palavras, a segunda parte foi mais do mesmo. Marrocos encostou-se à vantagem no marcador e à baliza de Bono e Portugal passou o tempo todo à procura de uma brecha na muralha. Fernando Santos atirou tudo o que tinha para o ataque à defesa marroquina: Ronaldo, Rafael Leão, Horta e Vitinha juntaram-se a Bruno Fernandes, João Félix e Bernardo Silva, mas acabaram todos por bater como água mole em pedra dura, por sinal sem conseguir furar. Portugal sai do Mundial nos quartosde-final e entrega a Marrocos o lugar na história que queria ocupar com uma lição para não esquecer: ninguém tropeça em montanhas.