Valorizamos pouco quem trabalha muito
Portugal está fora do Mundial e estamos todos muito desiludidos por isso. Nesta hora da derrota, não há que apontar culpados nem fazer rolar cabeças. Perdemos dois jogos neste Mundial mas voltámos a mostrar ao Mundo que temos jogadores de eleição e uma grande Seleção. Não vale tudo para ganhar e os críticos não podem dizer mal só porque sim. Não alinho nesse discurso. Temos de olhar para aspetos positivos e pensar num futuro que será, necessariamente, risonho para Portugal, dado o enorme valor individual que temos. Em relação ao jogo, fizemos uma primeira parte talvez com excessivas cautelas, com medo de errar. Procurámos a segurança mas com um jogo lento e previsível, em busca do erro contrário e atacando com algum receio. Não fomos iguais a nós próprios, enquanto Marrocos manteve as suas características, sem alterar uma vírgula à sua ideia de jogo.
Estamos todos desiludidos, mas nesta hora da derrota não há que apontar culpados ou fazer rolar cabeças
Na segunda parte, em desvantagem, há que dizer que Fernando Santos tentou tudo, mas jogámos de forma desorganizada e descrente. Bernardo estava quase a jogar como central e não havia essa necessidade. Compreendo que um central fosse para a frente, mas com Leão na esquerda, Horta na direita, Ronaldo e Félix na linha ofensiva a equipa não tinha de estar com aquela desorganização. Atacámos muito, algumas vezes mal e muitas vezes bem, mas temos de reconhecer que as melhores oportunidades foram de Marrocos. Portugal teve aquela bola não intencional na trave e uma grande defesa do guarda-redes, um dos grandes esteios desta seleção. Nos momentos certos não falhou, ao contrário do nosso, que foi infeliz no golo sofrido. Estou certo de que se tivéssemos marcado primeiro iríamos tirar o adversário da sua zona de conforto. Neste Mundial, Marrocos apenas sofreu um golo em cinco jogos... e foi um autogolo. Para isso muito contribuiu o facto de nunca ter jogado com o resultado desfavorável. Temos de dar mérito ao seu treinador, aos jogadores e à equipa, que na parte final jogou com menos de metade dos titulares e aguentou estoicamente. Em Portugal, valorizamos pouco quem trabalha muito. Marrocos não tem estrelas mas tem jogadores bons que jogaram como equipa. Por isso consegue surpreender. Pessoalmente, estava muito confiante, pensei mesmo que íamos ser campeões. Os jogadores lutaram e correram, mas o futebol é mesmo assim.