O Jogo

Valorizamo­s pouco quem trabalha muito

- Jaime Pacheco Treinador de futebol e antigo internacio­nal português

Portugal está fora do Mundial e estamos todos muito desiludido­s por isso. Nesta hora da derrota, não há que apontar culpados nem fazer rolar cabeças. Perdemos dois jogos neste Mundial mas voltámos a mostrar ao Mundo que temos jogadores de eleição e uma grande Seleção. Não vale tudo para ganhar e os críticos não podem dizer mal só porque sim. Não alinho nesse discurso. Temos de olhar para aspetos positivos e pensar num futuro que será, necessaria­mente, risonho para Portugal, dado o enorme valor individual que temos. Em relação ao jogo, fizemos uma primeira parte talvez com excessivas cautelas, com medo de errar. Procurámos a segurança mas com um jogo lento e previsível, em busca do erro contrário e atacando com algum receio. Não fomos iguais a nós próprios, enquanto Marrocos manteve as suas caracterís­ticas, sem alterar uma vírgula à sua ideia de jogo.

Estamos todos desiludido­s, mas nesta hora da derrota não há que apontar culpados ou fazer rolar cabeças

Na segunda parte, em desvantage­m, há que dizer que Fernando Santos tentou tudo, mas jogámos de forma desorganiz­ada e descrente. Bernardo estava quase a jogar como central e não havia essa necessidad­e. Compreendo que um central fosse para a frente, mas com Leão na esquerda, Horta na direita, Ronaldo e Félix na linha ofensiva a equipa não tinha de estar com aquela desorganiz­ação. Atacámos muito, algumas vezes mal e muitas vezes bem, mas temos de reconhecer que as melhores oportunida­des foram de Marrocos. Portugal teve aquela bola não intenciona­l na trave e uma grande defesa do guarda-redes, um dos grandes esteios desta seleção. Nos momentos certos não falhou, ao contrário do nosso, que foi infeliz no golo sofrido. Estou certo de que se tivéssemos marcado primeiro iríamos tirar o adversário da sua zona de conforto. Neste Mundial, Marrocos apenas sofreu um golo em cinco jogos... e foi um autogolo. Para isso muito contribuiu o facto de nunca ter jogado com o resultado desfavoráv­el. Temos de dar mérito ao seu treinador, aos jogadores e à equipa, que na parte final jogou com menos de metade dos titulares e aguentou estoicamen­te. Em Portugal, valorizamo­s pouco quem trabalha muito. Marrocos não tem estrelas mas tem jogadores bons que jogaram como equipa. Por isso consegue surpreende­r. Pessoalmen­te, estava muito confiante, pensei mesmo que íamos ser campeões. Os jogadores lutaram e correram, mas o futebol é mesmo assim.

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