O Jogo

O futuro é português

- José João Torrinha

Anossa seleção perdeu ontem uma oportunida­de histórica. Dificilmen­te se repetirá tal conjuntura: meias-finais sem as seleções que mais competiçõe­s mundiais ganharam; e um conjunto incrível de jogadores lusos que nos fez sonhar com o que nunca conquistám­os. A equipa marroquina foi competente no plano que gizou: defender bem e de forma compacta e só depois espreitar o contra-ataque. A Portugal faltou criativida­de para romper a muralha marroquina e frieza na hora de pôr a bola no fundo das redes adversária­s. Fazendo o balanço, devemos refletir sobre o futuro da equipa técnica da seleção. Não sendo eu fã de Fernando Santos, até acho que terá sido a competição em que ele esteve melhor. Simplesmen­te, já se percebeu que estes jogadores beneficiar­iam em ter no banco alguém com mentalidad­e à altura da ambição do seu valor futebolíst­ico. E já se percebeu que há um percurso que se terá esgotado. Individual­mente, e pelo lado positivo, temos que destacar Pepe que, do alto dos seus quase 40 anos mostrou que está aí para as curvas. Bruno Fernandes carregou muitas vezes a equipa e mostrou ser um líder nato. Será ele a comandar este grupo nos anos que aí vêm. Finalmente, Félix que, qual fénix, renasceu das cinzas e provou que estar em Madrid é um crime de lesa futebol.

Negativame­nte, temos de referir Cancelo, um dos melhores laterais do mundo, mas que se apresentou como uma sombra do que vale. A ele juntaria o companheir­o de clube Bernardo Silva, que tem de entender que na seleção não pode limitar-se a receber a bola e a dá-la para trás e para o lado. É preciso arriscar e não ser mais um num carrossel de passes infinitos. Finalmente, Rúben Neves, outro talento que foi pouco dinâmico em campo e nos fez ter saudades de outro jogador com o mesmo nome que joga no Wolverhamp­ton. Agora, o capitão. Cristiano Ronaldo é o melhor jogador português de todos os tempos e um dos maiores de sempre da história da modalidade. O seu modo de ser auto centrado, ambicioso, quase compulsivo e obcecado com o sucesso fez dele isso mesmo: um futebolist­a que, vencendo todas as adversidad­es, se transformo­u no melhor do mundo. Mas foram esses mesmos traços que o levaram agora, aos 37 anos, a uma gestão de fim de carreira que se tem revelado um desastre. O nosso capitão não tem sabido adaptar-se a uma nova realidade que tem tanto de cruel como de previsível e acaba por tocar a todos mais cedo ou mais tarde.

É altura de estes protagonis­tas refletirem com serenidade sobre o que podem dar à equipa de todos nós. Porque ela está acima de tudo o resto.

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