Mundial de futebol: quanto vales?
Já a vivermos a última semana do Mundial de futebol, e com Portugal eliminado, que ilações podemos retirar da edição de 2022? A nível económico, a FIFA apresentou no ciclo 2018-22 (correspondente ao mundial do Catar) uma receita recorde de 7,5 mil milhões de dólares. Este valor representa um crescimento de mil milhões de dólares face ao ciclo de 201418 (correspondente ao Mundial da Rússia), o que permitiu um aumento do “prize pool” total da competição de 400 para 440 milhões de dólares, assim como um aumento do “prize money” de 38 para 42 milhões de dólares. Infelizmente, a seleção portuguesa caiu nos quartos de final face a Marrocos. Este desfecho significa que a Federação Portuguesa de Futebol arrecadará cerca de 16 milhões de dólares, um valor superior ao Mundial da Rússia em 2018, em que Portugal arrecadou um valor a rondar os 12 milhões de euros. Este aumento prende-se com dois fatores: o alcance de uma fase mais avançada na competição (quartos de final vs. oitavos de final) e os maiores prémios distribuídos pela FIFA no Mundial do Catar. Também a nível tecnológico este Mundial tem estado na vanguarda. A tecnologia utilizada prende-se maioritariamente com a vertente de entretenimento para os adeptos e transparência desportiva. Relativamente ao entretenimento, a aplicação FIFA+ disponibiliza aos adeptos presentes nos estádios do Catar estatísticas do jogo e mapas de calor dos jogadores, através de realidade aumentada no telemóvel. Relativamente à utilização da tecnologia como ferramenta de transparência desportiva, este foi o primeiro Mundial com a utilização do SemiAutomated Offside Technology, uma ferramenta que produz, através de sensores e realidade virtual, um alerta automático de fora de jogo, reduzindo o tempo de tomada de decisão. Dado este impacto económico e tecnológico, assim como o impacto social, é crucial delinear uma visão estratégica sobre o futuro do Mundial. A FIFA realizou em 2021 um estudo de implementação do Mundial numa base bienal, suportando-se na premissa de que a maior recorrência levará a maiores receitas e a um maior desenvolvimento do futebol (em comunicado próprio anuncia que esta medida levaria uma receita adicional combinada de 4,4 mil milhões de dólares no primeiro ciclo de quatro anos, com esses fundos a serem distribuídos pelos 211 membros). Contudo, é crucial ter uma perspetiva holística e suportada também em fatores não mesuráveis, como a escassez ou espetacularidade, a história da competição e até mesmo a opinião dos adeptos.
O Mundial de futebol é um importante veículo de desenvolvimento económico, tecnológico e social. É então crucial que os órgãos governadores tenham uma definição estratégica eficaz sobre o futuro deste, tendo em conta os interesses de todos os stakeholders. Pelo seu alcance o Futebol tem um impacto que poucas indústrias têm, importa proteger e promovê-lo nesta capacidade de ser o tal mecanismo de desenvolvimento global.
– Partner EY