O preferido, o afilhado e o olhar protetor de Reinaldo
“Largos anos têm 14 600 dias” é lançado amanhã e retrata a vida de Pinto da Costa em 500 fotos. Vítor Baía e Sérgio Conceição em destaque num dos excertos da entrevista do líder portista
Publicações: o líder do FC Porto já tem quatro obras literárias e numa estreia-se fotobiografia
Ex-administrador da SAD é lembrado pelo presidente dos dragões como “o mais dedicado dirigente” que o clube teve. Boa relação com António Costa não impede reparo, em defesa do desporto português.
BRUNO FILIPE MONTEIRO
O mais recente livro sobre ●●● a vida de Pinto da Costa é apresentado oficialmente amanhã (18 horas), no hall do Museu do FC Porto, mas uma pequena parte da obra foi destapada ontem na revista “Dragões”, que publicou excertos da entrevista que acompanha a fotobiografia do presidente portista. “Largos anos têm 14 600 dias” é composto por cerca de 500 fotografias, da infância aos dias de hoje do líder portista, que recorda a génese da paixão pelo FC Porto, as batalhas travadas com alguns políticos, treinadores, dirigentes e jogadores que mais o marcaram, entre outros temas. Neste capítulo, Vítor Baía, atual administrador da SAD, e Sérgio Conceição, treinador da equipa principal de futebol, têm um lugar cativo nas memórias do dirigente mais titulado da história do futebol. “Sempre gostei de todos os jogadores, mas lembro-me de dois casos com que tinha muito cuidado. Um era o Vítor Baía, porque, pelo feitio dele, quando acabava um jogo vinha abraçar-me e parecia que era o meu preferido. Tinha, como toda a gente, grande admiração por ele, mas não era preferido, era bom. E gosto mais dos que são melhores, como é evidente”, explica Pinto da Costa, antes de se referir ao “carinho especial” por Conceição, que conhece “desde os 15 anos”. “Veio para o FC Porto sozinho e além disso era um grande jogador que esteve ligado a grandes momentos. No nosso “tri”, ganho em Guimarães, é ele que desbloqueia o jogo com duas jogadas fantásticas em que dá os golos ao Zahovic e ao Jardel. O [José] Mourinho dizia muitas vezes ao Reinaldo que o Sérgio [Conceição] era meu afilhado. E eu disse-lhe: ‘É afilhado porquê? Não é meu afilhado. Têm de compreender que o conheço desde menino…’”, recorda o presidente dos dragões, garantindo que “tinha um certo cuidado” publicamente para “não passar a imagem” de que o agora técnico “era diferente dos outros, porque não era”. “Só que o Sérgio era muito exuberante também, sentia o FC Porto como poucos e dava naturalmente grandes fotos”, afirma.
Do irmão Reinaldo Teles, à relação com António Costa
Ainda que a relação próxima com José Maria Pedroto seja sobejamente conhecida, era para Reinaldo Teles que Pinto da Costa olhava como “um irmão” que conheceu no futebol. O presidente do FC Porto conheceu o malogrado dirigente quando este era “um bom praticante” de boxe, pelo facto de ter sido diretor da secção nos anos 60, e afiança que tinha “um feitio especial”. “Toda a gente achava que ele era um boxeur, mas era a pessoa mais pacífica que eu conheci. Agora, quando se irritava, cuidado…”, conta o líder dos azuis e brancos, enaltecendo o espírito protetor do ex-administrador da SAD, falecido em 2020. “Sentia uma coisa fantástica nele: podia estar a 50 metros dele e sentia que se olhasse para ele, ele estava sempre com os olhos em mim. Ele tinha uma preocupação permanente em relação a mim e muitas vezes disse-lhe: ‘Ó Reinaldo, se me quiserem matar, não é por você estar a olhar…’ Mas ele tinha a preocupação tremenda de estar sempre a olhar e a ver aonde é que eu ia”, lembra Pinto da Costa, considerando o desaparecimento do “Tio Reinaldo” como “uma perda enorme”. “E foi talvez, se não o maior, o mais dedicado dirigente que o FC Porto teve”, sublinha.
O “compromisso com o FC Porto” fez com que Pinto da Costa não se coibisse de enfrentar alguns políticos em defesa do clube, governantes ou não. Recentemente, tem realizado alguns reparos à governação de António Costa, por entender que “há coisas inacreditáveis que acontecem no desporto”, embora isso não significa que tenha uma má relação com o primeiro-ministro. “Com ele pessoalmente tenho boas relações, até nos rimos muito quando estamos juntos e devo-lhe algumas deferências”, refere, antes de relatar um episódio quando o líder do Governo ainda era presidente da Câmara Municipal de Lisboa. “Fizemos um jantar de Natal na nossa delegação e ele ia mandar lá um vereador. Quando soube que eu ia estar presente, substituiu o vereador e foi lá ele mesmo pessoalmente. Isto é um gesto de grande respeito pelo FC Porto, que nunca esqueci. À parte disso, se tiver de criticar por entender que o FC Porto está a ser prejudicado, dentro dos limites da educação que felizmente tenho, critico seja quem for”, lê-se na entrevista do livro “Largos anos têm 14
600 dias”.