Eles mudaram a decoração
1Quando, em Braga (à 5.ª jornada), Moreno lançou um sistema de três centrais com Bamba recuando de médio (onde antes jogava) para o meio deles, imaginei que fosse uma estratégia específica para travar (como conseguiu) o 4x4x2 bracarense e seus dois pontas-de-lança. O campeonato provou que era mais o início de um novo sistema de referência para a equipa que assim ganhou maior rigor defensivo sem perder o que tinha no ataque.
Um início de construção que, por vezes, com o recuo do tal anterior n.º 6 de passe, esgota principalmente Tiago Silva ao exigir que este venha buscar muito jogo atrás mas, no geral, o onze foi-se readaptando a essa nova exigência de funcionamento. Entretanto, Bamba acrescentou argumentos para ser visto mais completo como jogador. Um pivô defensivo quando se mete a jogar como central entre a linha de 3 atrás; um pivô mais construtivo quando sobe para jogar como “médio 6” à frente de uma linha de 4.
2Não sei em que posição Mancini o vê mais quando o convoca naquelas chamadas de observação alargada da seleção italiana. Talvez nas duas, alternado (muito gostam os treinadores destes jogadores multifunções). Mas, se estivesse noum clube maior que agora o comprasse, onde veria Bamba a crescer mesmo seria como médio.
Por uma razão simples: porque
tem futebol para muito mais amplitude de campo do que só o natural espaço de corte-saída do central. No Vitória encaixou nas necessidades da equipa. Para agora expandir o seu jogo, a especialização mais como médio é a que lhe pode abrir mais as suas capacidades (sem perder a possibilidade de recuar) pois tanto sabe posicionar-se a defender como sobretudo abrir-se para o jogo (e abri-lo) com a sua visão para elaborar desde trás.
3O Arouca de Evangelista vai criando raízes de bom jogo. Nessa evolução, há um jogador que, agora numa fase de maturidade e tendo dado uns passos atrás no campo, tem-me feito gostar mais da equipa nesta fase porque tem jogado cada vez mais tempo ao
seu nível. É Alan Ruiz (um talento que via às vezes com “sono”). Tem toque de bola aveludado e visão a nível de passe que nasce da forma como se move no meiocampo ofensivo perto do pontade-lança.
Um avançado disfarçado de médio que trabalha mais para o ataque mesmo pisando na maior parte do tempo espaços de meio-campo. Esta frase, admito, parece confusa, mas lendo-a com calma pode sentir a mesma serenidade com que Ruiz joga em espaços onde por vezes os trincos adversários mordem e ele passeia sem se intimidar. O bom futebol é muito feito deste tipo de jogadores que se fazem passar despercebidos no jogo mas que só com um olho aberto veem mais do que todos.
A partir de Bamba e Alan Ruiz, entendendo como um jogador pode mudar a equipa e a si próprio só por estar uns metros atrás ou à frente