O domínio do dragão no país dos milhões
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À quinta tentativa, depois de quatro finais perdidas, o FC Porto conquistou ontem a primeira Taça da Liga da sua história, uma vitória valorizada pela réplica do Sporting, que na primeira parte ameaçou o empate num par de ocasiões, vendo a sorte bater nos ferros. A intervenção de Conceição ao intervalo terá sido fundamental para corrigir o que não corria bem e a segunda metade passou de controlo total a passeio, após a expulsão de Paulinho. O treinador também soma, claro está, mais um título, o nono com os azuis e brancos. Apesar da insatisfação pelo atraso para o Benfica no campeonato, a realidade, indesmentível, é que na época em curso só uma equipa somou títulos em Portugal, a do FC Porto, ao erguer a Supertaça e a Taça da Liga. Quem não gostaria de estar no lugar dos azuis e brancos?
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A história recente do futebol português está marcada por constantes despedidas dos melhores futebolistas, quase sempre transferidos para clubes onde abunda o dinheiro que ainda não chegou aos nossos pela via do investimento, proveniente das contas bancárias de milionários árabes, norte-americanos e, até certa altura, de oligarcas russos. A final da Taça da Liga poderá ter ficado marcada pelo adeus a mais um craque, Pedro Porro, do Sporting, que se prepara para finalizar a transferência para o Tottenham, por 45 milhões de euros.
A perda é grande, para o campeonato e para o clube de Alvalade. Mas atendendo à nossa realidade, quando comparada com Inglaterra, França, Espanha e Itália, tornase natural, em função da força daqueles mercados. E também se traduz em benefícios importantes. Ainda ontem o site “Transfermarkt” revelava que Benfica e FC Porto são o segundo e quinto clubes que mais faturaram com a venda de jogadores neste milénio, acumulando 1431 e 1343 milhões de euros com as transações, respetivamente. Por aqui se vê que há milhões de razões para não ficarmos pelos habituais lamentos, até porque os departamentos de “scouting” dos clubes nacionais dão cartas à escala global, continuando a descobrir agulhas de qualidade nos maiores palheiros. Se vivem num aperto com as contas apertadas, o problema estará sempre na gestão. Está bem à vista que conseguem ser competitivos, mesmo no plano europeu. É sempre possível melhorar, mas não será, no médio prazo, necessário apostar em ruturas competitivas à procura de modelos absurdos que só serviriam para, no quadro nacional, dividir competições entre ricos e pobres, com fórmulas usadas em países com maior fôlego económico, mas a léguas de Portugal em termos de expressão e visibilidade no quadro do futebol europeu, como a Escócia e a Suíça.
Na época em curso, só o FC Porto somou títulos em Portugal. Quem não gostaria de estar no lugar dos azuis e brancos?