Luís Freitas Lobo A agressividade da concentração no Conceição “mais tático”
A agressividade da concentração. Nem sempre a chave para ganhar um clássico está no mesmo local do jogo. As incidências deste, o síndroma do golo cedo (a bola que furou entre as luvas de Adán) e o plano tático traçado juntaramse para uma vitória portista que mais do que numa postura dominadora assentou numa taticamente controladora. Por isso, a agressividade desta vez mais do que expressar-se em posse em cima do adversário, centrou-se na concentração em segui-la por todos os locais por onde andava, sem nunca a perder de vista, para estar sempre perto dela e encurtar espaços de execução aos tecnicistas (Pote-Edwards) e velocistas (Porro-Nuno Santos) do Sporting. Foi nesse olhar tático sem nunca perder o foco que esteve o triunfo do “ADNConceição” talvez mais tático do que nunca num clássico.
2Não foi a descoberta do melhor caminho tático de como encaixar Pepê junto com Otávio, mas foi, face às circunstâncias, a melhor forma de colmatar lacunas (a falta do melhor nº9 titular Evanilson) e lançar estrategicamente o 4x2x3x1 que (em vez do 4x4x2) era o sistema mais indicado para o jogo. Dessa forma, Conceição acrescentou um terceiro médio ao meio-campo (Otávio no espaço “10”) e deu, assim, maior consistência ao jogo interior defesa-ataque-defesa ao sector onde, sem bola, pedia muitas vezes que Eustáquio, pivô esquerdo sem bola, deitasse um olho em antecipação de cobertura para vigiar Porro e não o deixar um-para-um com Wendell. Nas alas, a assimetria notou-se menos. Galeno foi extremo mas Pepê, mais do que sucedâneo de Otávio a vir da faixa para o meio, manteve-se quase sempre mais aberto para condicionar o ataque leonino também pela sua faixa.
3Era uma estrutura para fechar os flancos e apanhar o Sporting por dentro do seu bloco a que o golo cedo permitiu juntar uma postura de linhas mais em expectativa, recuando para depois recuperar e sair rápido. Os planos de marcação a Porro e Pedro Gonçalves (sentindo o respirar de Pepe, tinha de fugir para a ala esquerda) estavam ativados. O Sporting tinha de sair por fora (flancos) e antes de chegar à combinação do ataque central, vivia pela individualidade mais “malandragem de rua”: Edwards. Cada momento em que o “soneca inglês” toca ou arranca com a bola é diferente de tudo no jogo. Passa pelos adversários parecendo caminhar sobre veludo. Apareceu na primeira parte mas com o decorrer do jogo a jaula de marcação portista foi descobrindo como o fechar e não o deixar sair. Foi o jogo mais forte no plano da segurança defensiva que o FC Porto fez esta época. Até Eustáquio foi o soldado que Conceição (gritando com ele) queria. Uma exigência coletiva imposta pela pressão alta e dinâmica ofensiva do sistema do Sporting pelos três corredores, simultaneamente. Amorim buscou sempre como fugir às marcações. Dando Paulinho aos centrais para jogar em apoios, escondendo Edwards desde trás, dando mais largura de movimento a Pote, e os laterais a subirem ao mesmo tempo. A dupla de médios-centro Ugarte-Morita saía menos e dava rigor de cobertura interior. Enquanto o Sporting fez tudo para nunca deixar cair o jogo, o FC Porto fez tudo para nunca o deixar “partir-se”.
4A expulsão de Paulinho acabou com o jogo nos seus parâmetros táticos normais. O onze portista pôde desencaixar para atacar com a largura sincronizada e linhas de passe abertas (“bola descoberta”) como antes não tivera em contra-ataque. Fez assim o 2-0 pela estrada de João Mário-Pepê na direita. A última imagem dos olhos vidrados de Porro, batendo no peito, no símbolo, e acenando aos adeptos verdes que viam fugir ao mesmo tempo mais um título e um grande jogador da equipa (este a meio da época) disse tudo do sentimento leonino após o jogo. Amorim tem um plano de jogo, a direção uma política de gestão. No meio, uma equipa e um projeto (de Matheus Nunes a Porro) condenado sem poder cruzar-se.
Como o FC Porto ganhou ao controlar todos os caminhos da bola