O “gato Félix” na profundidade
1O adversário que se imaginava poder crescer um pouco voltou, afinal, a ser outra vez de cartão. O Luxemburgo, a partir duma linha defensiva de 5 (5x4x1), até entrou com ideias atacantes com a bola, mas bastaram alguns ataques-abanões de Portugal para desintegrar todos os posicionamentos da sua defesa.
O mais surpreendente foi que esse desposicionar não foi provocado, como era mais provável o onze luxemburguês esperar, através do jogo curto e associativo português (ao qual estaria preparado para contrariar) mas sim através de bolas longas metidas em diagonais na profundidade que deixaram sem reação (sem capacidade atacar a bola na sua trajetória) os seus cinco defesas.
Dessas três bolas, metidas a puxar sempre o poste mais distante, Nuno Mendes (primeiro, a ganhar em cima do lateral adversário e meter no meio), João Félix e Bernardo Silva (depois, como criativos crescidos para, entrando no espaço vazio, cabecearem entre defesas estáticos) apareceram três golos. Pouco depois, Félix roubou uma bola com que os luxemburgueses queriam sair a jogar e de repente Ronaldo parecia ter menos dez anos.
Em meia hora, quatro golos. O 3x4x3 português de bola em profundidade desfizera qualquer hipótese de ambição luxemburguesa. Otávio cumpriu como mais um baixinho a marcar de cabeça já com a explosão de Leão na esquerda, onde acho que Nuno Mendes vai ganhar o lugar a Guerreiro. Mas, sabem quem senti mesmo, no fim destes dois jogos, estar indiscutível para o modeloMartínez? Palhinha.
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Do melhor período de Portugal (aquele em que foi necessário pegar a sério no jogo e marcar diferença no resultado) viu-se como está, por fim, a voltar à tona do relvado o talento de João Félix para jogar o seu futebol (durante demasiado tempo afundado nas profundezas da “simeonização” do jogo e suas obrigações de recuar, fechar, defender, pressionar, ufff... fico cansado só de escrever e pensar como será fazer isto tudo). Agora é o “gato Félix” e a bola como um novelo de lã com quem pode brincar seriamente através da sua técnica e triangulação com direito a liberdade para atacar, soltar-se, fintar, desmarca-se, rematar... e nada disto me cansou escrever. Fez-me, até, vendo-o jogar, sentir uma sensação de leveza futebolística.
Já sei que chegarão jogos contra outro tipo de adversários que irão exigir muitos pedaços táticos do “jogo de Simeone” sem bola. É natural. E Félix, acredito, estará disponível para os fazer (sem para isso o atarem com uma corda em campo).
O futebol é assim mesmo mas acho sempre melhor quando se começa pela essência dos jogadores e só no momento seguinte (e imediato) se olha para as obrigações do jogo.