LUÍS ENCARNAÇÃO “O desporto está no nosso ADN”
LAGOA Presidente da Câmara sente orgulho nos atletas e clubes do concelho, mas sublinha a necessidade, igualmente fundamental, de oferecer atividade física e uma vida saudável a todos os cidadãos, garantindo apoio logístico e financeiro
O JOGO esteve à conversa com Luís Encarnação, presidente da Câmara de Lagoa, 54 anos, licenciado em Gestão de Recursos Humanos e mestre em Gestão Empresarial. Foi vereador de 2013 a 2018 e vice-presidente de 2018 a 2019, ano em que assumiu a presidência. Sob o tema Desporto Autárquico, os assuntos percorreram todo o concelho, ou a entrevista não tivesse decorrido no Complexo da Bela Vista, no Parchal, um dos melhores exemplos das muitas valências existentes e onde, além da competição – atletismo e futebol – é prestado um verdadeiro serviço público à população em termos de lazer.
Lagoa festejou, recentemente, 250 anos da criação do concelho. Que papel tem o desporto?
— O desporto tem um papel muito importante na vida do concelho e, como costumamos dizer, está no nosso ADN, sob este lema de “Lagoa Cidade Ativa Terra de Campeões”. Desenvolvemos todo um trabalho com os jovens, as crianças e os nossos seniores, em que não é preciso idade para começar a praticar desporto ou fazer atividade física. Logo aos nove meses, um bebé pode frequentar a piscina municipal, e, depois, não há limite de idade, é a nossa estratégia e o primeiro eixo do desenvolvimento, que é o desporto para todos.
“Estamos bem servidos e equipados, mas não satisfeitos e temos de investir mais, nomeadamente na construção de um campo sintético de futebol de 11 e num traçado com medidas oficiais para corta-mato no parque urbano da Bela Vista”
O eixo seguinte é o desporto de competição. Como conciliam estas realidades?
— O primeiro eixo tem por missão principal proporcionar atividade física e desportiva ao maior número de lagoenses e a primeira consequência direta é o desporto de competição. Nessa matéria, temos quatro modalidades estratégicas: basquetebol, andebol, canoagem e badminton. Lagoa desenvolve um trabalho extraordinário em termos competitivos e os nossos clubes, em termos regionais, são campeões ou andam perto disso, e também se têm destacado a nível nacional, como é o caso da Associação Cultural e Desportiva Ferragudo, cuja equipa de seniores femininos acaba de subir ao principal escalão do basquetebol português. Depois, na canoagem, o Castores do Arade é o quinto ou sexto clube nacional, entre cerca de 70, com predomínio dos emblemas do Norte e nós aqui, no Sul, no Arade, a ganhar títulos individuais e coletivos. O andebol do Lagoa Académico Clube é uma referência na formação e vai sempre disputar as fases finais com os maiores da modalidade, e, por último, o badminton, que é a nossa coqueluche, sendo o clube com mais títulos nacionais conquistados, individual e coletivamente. Em suma, neste eixo do desporto de competição, os resultados são animadores e reconfortantes, também fruto do dinamismo e empenho da equipa de Desporto da Câmara Municipal de Lagoa.
O terceiro eixo, dos grandes eventos, é reflexo do que acabou de enumerar?
— O terceiro eixo também é consequência dos primeiros. Os lagoenses já se habituaram a ter grandes eventos desportivos, a ser palco de excelentes provas, como forma de dar notoriedade ao concelho e de servir de aprendizagem aos nossos clubes e atletas, para além do importante contributo à economia local. Esta pista de atletismo que aqui vimos recebeu há dias quatro estágios internacionais de formações da Dinamarca, Alemanha e Bélgica, que procuram excelentes condições de treino e encontram, igualmente, este clima fantástico. Juntando à fantástica gastronomia, aos vinhos e à beleza da nossa costa e praias, mais a vontade dos lagoenses de bem acolher, é um orgulho poder dizer que tudo isto nos coloca numa posição privilegiada para manter a estratégia de desenvolvimento desportivo no concelho.
A subida da ACD Ferragudo à elite do basquetebol feminino obriga a abrir os cordões à bolsa?
— Naturalmente, porque o nível de exigência do escalão principal é maior, embora esse projeto de apoio ao basquetebol tenha já dois anos. Vamos reunir com o clube e
saber quais as necessidades emergentes deste resultado desportivo. A mensagem que passamos, independentemente das dificuldades que existem e vincando que muitas vezes é preciso atravessar o país para jogar, isso nunca impediu que algumas equipas deixem de competir e que alguns atletas lagoenses não possam estar ao seu melhor nível. É o compromisso que temos com os clubes e vamos continuar a cumpri-lo.
Com tantos clubes e tantas modalidades, a ginástica orçamental deve ser imensa…
— Não é fácil, sobretudo a nível dos transportes, inclusive porque a capacidade instalada na autarquia não é suficiente. Temos três ou quatro equipas permanentemente a cruzar o país, a jogar em Lisboa, no Centro, no Porto, e é preciso recorrer a prestação de serviços para garantir essas deslocações e a presença nas competições. Mas o que queremos é que os nossos clubes e atletas estejam sempre ao seu melhor nível.
Falou das quatro modalidades estratégicas do concelho, mas nesse lote não entra o futebol. Porquê?
— O futebol é a modalidade com mais praticantes, acima de 500, mas talvez por termos aqui perto de nós o Portimonense, que disputa a I Liga, é possível que os atletas se sintam atraídos por esse clube do outro lado do rio Arade. Mas temos três ou quatro coletividades que trabalham muito bem a formação. Os resultados não têm aparecido, é verdade, mas isso não é uma grande preocupação, pois apostamos nas nossas modalidades estratégicas. O futebol continua a ser a que mais atrai os jovens, mas se eles e as suas famílias tomarem outras opções, repito, não é preocupante.
As inúmeras e diversificadas infraestruturas do concelho são suficientes?
—Estamos bem servidos e equipados, mas não satisfeitos, e temos de investir mais, nomeadamente na construção de um campo sintético de futebol de 11, e aqui, no parque urbano da Bela Vista, muito em breve, de um traçado com medidas oficiais para corta-mato, fundamentais para alavancar ainda mais a oferta do Município em termos de instalações desportivas.
O desporto para todos é uma bandeira de todos os municípios. Para além do que já referiu, como é que Lagoa responde ao tema?
—Através dos serviços desportivos da autarquia. O Programa Viva Mais é direcionado aos seniores e o trabalho que fazemos nesta pista, aberta a todos os lagoenses, assim como os ginásios, aqui e no Pavilhão Municipal Jacinto Correia, tem por objetivo trazer mais gente à atividade física. É fundamental e era uma estratégia da Organização Mundial de Saúde antes da pandemia. A ideia passa por promover a prática desportiva numa fase precoce, para incutir nas crianças um hábito de vida saudável. Quanto mais cedo nos habituarmos a isso, mais ficamos a ganhar na nossa vida. Como autarcas, temos de seguir na prossecução deste estilo de vida, até para poupar milhares de euros em fármacos nas populações mais idosas e procurar evitar os diabetes, acidentes cardiovasculares e depressões, como está devidamente comprovado.
“O futebol é a modalidade com mais praticantes, acima de 500, mas talvez por termos aqui perto de nós o Portimonense, que disputa a I Liga, é possível que os atletas se sintam atraídos por esse clube do outro lado do rio Arade”
Que receitas colhe a Câmara com a realização dos eventos?
— A nossa preocupação não é tanto a receita, porque essas realizações fazem parte do investimento e estão no nosso orçamento. Seja como for, através desses eventos incluímos mais receitas na nossa economia, porque mexem com os hotéis, restaurantes, supermercados, bares e até nas lojas de recordações. É todo este dinamismo que aporta ao concelho e que importa manter.
Leva quatro anos de presidência, está satisfeito com o que tem sido feito em Lagoa a nível de desporto?
—Este trabalho data de 2013, quando exerci o cargo de vereador com o pelouro do Desporto, mas sim, quando olho para trás eu e a minha equipa ficamos satisfeitos com a criação de infraestruturas, os melhoramentos, o trabalho com os clubes e os resultados alcançados. Mas o mais importante é olhar para o futuro: temos mais dois anos e meio pela frente e muita coisa para fazer.