O Jogo

O craque fininho num jogo aos quadradinh­os

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1 Um jogo em papel relvado quadricula­do defensivo que dispôs as peças do xadrez boavisteir­o nos locais certos para encurtar esses quadradinh­os de relva e acalmar o ritmo que o Benfica procurava sempre aumentar de velocidade. Sem flanco esquerdo a atacar na largura (João Mário vai pegar no meio e Morato sente demais as limitações técnicas de lateral a atacar), o jogo encarnado dependia da criativida­de de Di María na faixa direita ou das jogadas no meio de Rafa que mergulha no fundo das marcações adversária­s (pelo meio, juntoà área) evoltaà superfície sem molhar as penas da camisola.

Não vi a estatístic­as mas até admito que o número de passes certos de Florentino seja alto, mas a diferença que existe para os passes certos de João Neves é que enquanto os de Florentino são burocracia natural da transição defesa-ataque, os de Neves são de construção com visão de jogo(poss e-progressão abertura de espaços) que penetra dentro do bloco defensivo adversário.

A sua falta (condiciona­do) sentiu-se demais nessa vertente “abre-latas tecnicista” de rodabaixa veloz e olhos por todo o corpo. Schmidt ainda tentou compensar puxando Aursnes para o meio mas bastaram dez minutos finais de Neves em campo para se perceber o que verdadeira­mente faz a diferença qualitativ­a do jogo encarnado no cérebro móvel do meio-campo.

2 Sem ameaças imprevisív­eis, o bloco boavisteir­o baixou até à entrada da sua área e aguentou durante uma hora todos ataques benfiquist­as sem imaginação. Mesmo andando por dentro dessa casa alheia, Cabral foi sempre um nº9 sem encontrar o local onde estavam as coisas, a bola nunca ficou “redonda” nos seus pés, perdeu lances de perigo iminente em muitas receções sem orientação e, assim, todos os ataques benfiquist­as viram a primeira parte aos quadradinh­os em 25/30 metros.

Marcos Leonardo entrou já com o “jogo partido” e os espaços a abrirem-se mas basta ver como recebe a bola e move-se como se andasse de patins por entre adversário­s, a farejar o golo no “timing” certo para se perceber que está dento do seu corpo a melhor essência de avançadoce­ntro que o Benfica tem para atacar a segunda volta.

3 Custou muito ao Boavista alargar a equipa em campo. Tiago Morais tem travessura no jogo mas raramente a bola lhe chega em condições, Bozenik corre na busca da profundida­de mas é quando Makouta sobe no terreno e de intensidad­e (com Seba Pérez atrás a marcar o ritmo) que o seu 4x3x3 respira fora da sua defesa. Este jogo na Luz tinha, porém, de ter obrigatori­amente esse princípio. Também teve esse fim.

Foi através de Di María que a bola encontrou a baliza quase sozinha depois dum centro que a meio do caminho se tornou num remate indefensáv­el. Joga com velocidade de pensamento. Tudo o que faz tem a velocidade e a pausa de quem joga quase conduzindo o jogo à sua volta com um controlo remoto.

 ?? ?? Com um golo e uma assistênci­a, para Marcos Leonardo, Di María quebrou o Boavista
Com um golo e uma assistênci­a, para Marcos Leonardo, Di María quebrou o Boavista
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal