O craque fininho num jogo aos quadradinhos
1 Um jogo em papel relvado quadriculado defensivo que dispôs as peças do xadrez boavisteiro nos locais certos para encurtar esses quadradinhos de relva e acalmar o ritmo que o Benfica procurava sempre aumentar de velocidade. Sem flanco esquerdo a atacar na largura (João Mário vai pegar no meio e Morato sente demais as limitações técnicas de lateral a atacar), o jogo encarnado dependia da criatividade de Di María na faixa direita ou das jogadas no meio de Rafa que mergulha no fundo das marcações adversárias (pelo meio, juntoà área) evoltaà superfície sem molhar as penas da camisola.
Não vi a estatísticas mas até admito que o número de passes certos de Florentino seja alto, mas a diferença que existe para os passes certos de João Neves é que enquanto os de Florentino são burocracia natural da transição defesa-ataque, os de Neves são de construção com visão de jogo(poss e-progressão abertura de espaços) que penetra dentro do bloco defensivo adversário.
A sua falta (condicionado) sentiu-se demais nessa vertente “abre-latas tecnicista” de rodabaixa veloz e olhos por todo o corpo. Schmidt ainda tentou compensar puxando Aursnes para o meio mas bastaram dez minutos finais de Neves em campo para se perceber o que verdadeiramente faz a diferença qualitativa do jogo encarnado no cérebro móvel do meio-campo.
2 Sem ameaças imprevisíveis, o bloco boavisteiro baixou até à entrada da sua área e aguentou durante uma hora todos ataques benfiquistas sem imaginação. Mesmo andando por dentro dessa casa alheia, Cabral foi sempre um nº9 sem encontrar o local onde estavam as coisas, a bola nunca ficou “redonda” nos seus pés, perdeu lances de perigo iminente em muitas receções sem orientação e, assim, todos os ataques benfiquistas viram a primeira parte aos quadradinhos em 25/30 metros.
Marcos Leonardo entrou já com o “jogo partido” e os espaços a abrirem-se mas basta ver como recebe a bola e move-se como se andasse de patins por entre adversários, a farejar o golo no “timing” certo para se perceber que está dento do seu corpo a melhor essência de avançadocentro que o Benfica tem para atacar a segunda volta.
3 Custou muito ao Boavista alargar a equipa em campo. Tiago Morais tem travessura no jogo mas raramente a bola lhe chega em condições, Bozenik corre na busca da profundidade mas é quando Makouta sobe no terreno e de intensidade (com Seba Pérez atrás a marcar o ritmo) que o seu 4x3x3 respira fora da sua defesa. Este jogo na Luz tinha, porém, de ter obrigatoriamente esse princípio. Também teve esse fim.
Foi através de Di María que a bola encontrou a baliza quase sozinha depois dum centro que a meio do caminho se tornou num remate indefensável. Joga com velocidade de pensamento. Tudo o que faz tem a velocidade e a pausa de quem joga quase conduzindo o jogo à sua volta com um controlo remoto.