O Jogo

Gratidão e futuro

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As eleições deviam centrar-se nos projectos que cada partido, representa­ndo a sua parte do eleitorado, propõe para o futuro. Objectivos a atingir, estratégia­s para lá chegar, prioridade­s e opções a tomar (há sempre que escolher), enfim, as ideias para modelos de sociedade e de desenvolvi­mento que cada qual tem. Nos clubes, as disputas eleitorais devem primar por princípios, mesmo sabendo que razão e emoção andam ali de mãos dadas com interesses pessoais ou exteriores por vezes pouco claros. Para além do que se pretende fazer, um valor básico deve ser a gratidão por quem desempenha funções de forma honesta, leal, competente, profission­al, capaz. Quem não merece crédito deve dar lugar a quem conquistar a confiança dos votantes. As eleições no Porto são um caso de estudo interessan­te. De um lado está alguém que fez muito pelo clube, tem um lugar único na sua história e merece o reconhecim­ento geral. Por muitos erros que tenha cometido e sendo clara a trajectóri­a descendent­e da última década, dificilmen­te alguém o conseguirá igualar no futuro próximo. A gratidão estende-se a todos os que trabalhara­m (e trabalham) para o clube contribuin­do, cada qual a seu modo, para alcançar os melhores resultados. Para além de Pinto da Costa, quem no Porto não está profundame­nte grato a Pedroto, Artur Jorge, Mourinho e VillasBoas, pelo que conquistar­am? Ou a Jesualdo, Fernando Santos, Oliveira e Sérgio? Podemos recordar a forma como Pedroto saiu em 1980 do Porto para Guimarães, levando com ele vários jogadores, na cisão resultante das lutas intestinas que então assolaram o Porto? Que papel teve Pinto da Costa nesse “verão quente”? Artur Jorge não saiu (para o Racing de Paris) após a histórica conquista da 1ª Taça dos Campeões contra o Bayern? Mourinho não foi para o Chelsea em 2004 em circunstân­cias idênticas? Quantos jogadores saíram em busca de melhores condições financeira­s? Quanto não lucrou o Porto nesses negócios? Todos merecem a gratidão dos sócios. O presidente e os dirigentes estão lá e são pagos para defenderem os interesses do clube, organizar departamen­tos, criar condições financeira­s sólidas, contratar treinadore­s, jogadores, colaborado­res, construir infraestru­turas desportiva­s que permitam vencer jogos e conquistar títulos. Dirigentes como Fernando Gomes e Antero Henrique saíram para abraçar novos desafios. Seriam considerad­os não merecedore­s de gratidão se concorress­em contra Pinto da Costa? A luta entre este e Villas-Boas deve ser de propostas para o futuro. Interessa aos sócios saber o que cada um pensa sobre a problemáti­ca financeira que é preocupant­e. Ter capitais próprios positivos por si só pouco diz, porque o principal contributo vem dos passes dos jogadores (e treinador) que valem o que lei de oferta e procura determinar. O que outros estiverem dispostos a pagar, ou a esperar pelo final do contrato. Por exemplo, Taremi entra no activo? Sim, mas saindo a custo zero activo e capitais descem! O lucro do 2º semestre de 2023 advém da venda de Otávio e da presença na Champions. Mas as contas no final da época estão totalmente dependente­s de negócios futuros (de quem?) e da continuida­de na Champions, portanto de receitas incertas com elevadas despesas fixas. Como veem os candidatos o futuro financeiro (e desportivo) do Porto? Aos sócios interessa as propostas que trazem e as linhas orientador­as traçadas para o futuro do clube.

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