UM TIRO REAL CONTRA TANTA PÓLVORA SECA
EFICÁCIA Sporting teve, em 60 minutos, oportunidades suficientes para golear, mas Abel Ruiz saltou do banco para contrariar todas as evidências e dar a final ao Braga
Quem não mata, morre. A velha máxima aplicada ao futebol fez todo o sentido nesta primeira meia-final da Taça da Liga. O Sporting dominou e merecia a vitória, mas quem acertou no alvo foi o Braga.
●●● O Braga está na final da Taça da Liga, mas muito pode agradecer aos jogadores do Sporting este extraordinário feito que abrilhanta ainda mais o trajeto crescente na sua afirmação entre a elite do futebol português. O Sporting partia como favorito para chegar ao encontro decisivo desta competição e ao longo da primeira parte, bem como nos primeiros 15 minutos da segunda, produziu o suficiente para ganhar, mas as constantesoportunidadesdegolocriadas tiveram quase sempre o mesmodestino:bolaparafora, para as mãos de Matheus ou, ainda, nos ferros da baliza dos guerreiros, bafejados pela fortuna em três ocasiões em que Pedro Gonçalves (uma vez) e Nuno Santos (duas) viram os seus remates esbarrarem nos postes.
O futebol é mesmo assim. Quem não marca arrisca-se a sofrer e, ironia das ironias, acabaria por ser um jogador que não tem sido feliz na finalização a sentenciar a partida. Lançado aos 60 minutos numa tentativadesacudiraasfixiante pressão leonina, Abel Ruiz puxou a equipa para a frente e, num lance bem desenhado por Zalazar, foi mais perspicaz no ataque à bola e rematou de forma fulgurante, de cabeça, para o golo que fez toda a diferença. Um castigo duríssimo para um Sporting que tinha sido claramente superior durante os primeiros 60 minutos, em especial na primeira parte, altura em que o Braga foi, verdadeiramente, empurrado para o seu meio-campo, com visíveis dificuldades em travar a dinâmica ofensiva da turmadeAlvalade.PedroGonçalves assumiu a batuta, Trincão esteve ligado à corrente e as incursões pelas faixas resultaram, muitas vezes, em sinais de alarme para a defensiva minhota.
Apostando, de início, na mobilidade das suas unidades da frente, o Braga conseguia evitar o golo do Sporting com muito sacrifício da sua linha defensiva e, também, pela forma assertiva como Vítor Carvalho, secundado pelos seus companheiros do eixo recuado, se preocupavam em dar poucos espaços a Gyokeres. Até os melhores do mundo têm dias negativos e foi o que aconteceu ao sueco nesta partida, pois as diagonais nas costas da defensiva causaram sempre pouco dano aos bracarenses, que ainda assim bem podem agradecer a falta de pontaria dos adversários.
Vendo o caso mal parado, pois o golo do Sporting adivinhava-se a qualquer momento, Artur Jorge sacou um autêntico coelho da cartola. Podemos especular se foi o lado estratégico na preparação para o jogo que falou mais alto, mas numa análise objetiva percebeu-se que a entrada de Abel Ruiz foi determinante para arrastar a equipa para terrenos mais adiantados, oferecendo uma referência ofensiva ao conjunto arsenalista e, mais importante do que isso, o golo que caiu como uma bomba no seio da equipa verde e branca.
Rúben Amorim não quis que a equipa caísse animicamente e tratou de mexer de imediato nas suas pedras, mas a verdade é que o Sporting nunca mais se levantou após aquele soco desferido sem dó nem piedade pelos guerreiros do Minho, sem dúvida bem mais confortáveis na última meia hora de jogo. O Braga está na final com alguma sorte à mistura, mas soube disparar na hora certa um tiro real que deu cabo de tanta pólvora seca do adversário. Há jogos assim.