“Nunca acordei dosonho” “Caso prejudicou reputação”
N’Dinga, pés de veludo, relógio suíço, resistência inabalável, posição nunca contestada durante uma dezena de anos. Jogador bandeira de um imenso Vitória, recordista de jogos no clube.
Esteve ao lado de Paulinho Cascavel e Ademir, também de Pedro Barbosa e Zahovic, depois de Paneira e Capucho. Foram dez anos em que o Vitória sempre exprimiu qualidade de jogo e N’Dinga era o ponto de equilíbrio.
Falando de dez anos no clube, de ser o jogador com mais jogos na história do Vitória, o que representa isso na sua memória, mesmo estando longe, no Canadá, onde vive?
—Esse trajeto é como um sonho do qual nunca consegui acordar, nem quero acordar. Nunca falo do Vitória no passado, ainda é o meu presente. Foram épocas inesquecíveis, nunca imaginei que as coisas levassem o rumo que levaram. Conhecendo tão bem os vitorianos, não me surpreendo que me tenha dedicado tanto a este clube.
Consegue destacar alguns colegas dessa aventura tão marcante em Portugal?
—Seria muito ingrato da minha parte que me colocasse a citar nomes de alguns, ignorando outros. Tive a oportunidade de conviver com jogadores muito bons e, principalmente, grandes homens, que me fizeram ser esse N’Dinga tão respeitado jogador do Vitória.
Quais aqueles que mais animavam o balneário e geravam boa disposição?
—Eram muitos os divertidos, cada um do seu jeito, metendo uma piada de vez em quando. Quero citar um que fazia qualquer coisa o tempo todo. Era o Neno, em qualquer momento saia-lhe uma graçola ou brincadeira e fazia toda a gente rir-se. Foram tantas e sucessivas histórias que é impossível escolher.
Quando chega procedente do Vita, do Congo, como se sentia?
—Quando cheguei ao Vitória era a primeira vez que saía do meu país. Era jovem e sem experiência. Chegava a um bom campeonato, a um clube da 1ªDivisão. Não esperava, por isso, começar logo a jogar ou ser constante. Mas isso aconteceu por força de Pimenta Machado. Ele quis investir em mim, sem me conhecer. Devo muito a um treinador
Além do brilho no campo, N’Dinga viu o nome arrastado durante anos pelo caso “off the record” e a disputa em tribunais entre Vitória e Académica. “Foi muito mau para a minha reputação e carreira. O meu papel era jogar, nada de burocracia. Nem sabia o que estava a acontecer, fui procurado por um empresário de um dos grandes clubes, que me queria contratar, mas ligou-me de volta para dizer que havia um problema que nos impedia de prosseguir negociação. Nada tenho a lamentar, porque fiquei em Guimarães e em casa.”
que me deu confiança máxima antes de começar a treinar. Foi o caso de Manuel Machado. Marinho Peres pôs também toda a confiança em mim, fez-me jogar. E os adeptos, desde o início, adotaramme com carinho e amor. Recebi toda a motivação para retribuir tudo o que me foi dado.
Algum episódio mais surreal na forma como lidou com os primeiros tempos em Guimarães?
—Quando cheguei ao Vitória, só pude treinar uma única vez, porque era o último treino. O campeonato tinha acabado. Lembro-me que parti para casa muito triste, a chorar, porque a velocidade de jogo e de de todos os colegas era muito alta. Eu nem conseguia andar! Eu era bom mas percebi que só andava na seleção! O Manuel Machado rapidamente fez uma intervenção junto de mim e fez-me acreditar que teria chances de jogar.
E fica a lembrança de uma Supertaça conquistada frente ao FC Porto?
—Uma alegria muito grande ter estado num dos melhores momentos da história doVitória. Foi a Supertaça ganha, mas também a presença nos quartos-de-final da Taça UEFA. Era uma loucura o calor que sentíamos dos adeptos. Sempre achei que os vitorianos mereciam muito mais do que aquilo que conseguimos.
Em Guimarães, N’Dinga conquistou um troféu, a Supertaça Cândido de Oliveira, frente ao FC Porto, em 1988
“Nunca falo do Vitória no passado, o Vitória ainda hoje é o meu presente. Épocas inesquecíveis”
“Não esperava começar logo a jogar, devo muito à confiança de Pimenta Machado, de Manuel Machado e Marinho Peres”
“Fiz um treino e parti para casa muito triste, a chorar. A velocidade era muito alta, eu nem conseguia andar!”