O Jogo

A vitória contra as “goleadas estatístic­as”

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1 Não adianta querer perceber o jogo contando remates, ataques, cantos e outros números. O futebol é totalmente insensível a várias bolas no poste e dezenas de oportunida­des de “golo feito”. Recusa-se a ser uma conta de matemática. Vive como um duende rindo-se das travessura­s que faz a quem se achava acima dessas maldades.

O Estoril é uma equipa cheia de bons jogadores, dos que fazem apetecer ver um jogo seu mais por eles do que toda a equipa no conjunto. Não tiro com isto valor ao treinador Vasco Seabra. É por ele, aliás, que eles se juntam no mesmo onze e tentam sempre jogar o chamado “jogo positivo”, subir o bloco, ter bola e criar a atacar.

Talvez por isso é que sofra mais defensivam­ente contra adversário­s ditos do mesmo nível (mas com ideias diferentes, mais traiçoeira­s). Contra o Benfica entrou com essa intenção. Marcou cedo (rasgo de Guitane) e teve, depois, de converter-se taticament­e ao jogo para o qual a equipa grande o afundou, fechando-se atrás. Quando saía, ficava curta e acabava a 25 metros da baliza adversária. Se, no fim, olharmos então para números vemos a “goleada estatístic­a”. Se olharmos para o resultado vemos o empate e o estímulo superior de a bater penáltis.

2 Não há “resultadis­mo” em nenhum ponto desta história. Existe adaptação à realidade do jogo no confronto contra o adversário grande que vai ganhar sempre (mas é mesmo sempre desde que o futebol é futebol) nas tais contas finais que são (apenas) números sem (tantas vezes) tradução no resultado.

A tal palavra maldita, “resultadis­ta”, tinha sido, curiosamen­te, usada pelo treinador da equipa moralmente (e pelos valores humanos-materiais em campo) mais obrigada a combater o grande como um deles. Artur Jorge percebera o momento indefinido (jogo e peças chaves atacantes em falta) porque passa o seu Braga e, pensando também nos problemas defensivos, baixou o bloco mesmo por opção contra o Sporting ofensivo em velocidade técnica-força. A opção bracarense enfiou a equipa numa trincheira, mas as tais bolas que foram ao poste e barra (mais as defesas dum guarda-redes montanha) permitiram à equipa manterse viva para esperar a única bola que teve (já a segunda parte ia longa) para atacar e marcar (quando tinha, por fim, metido um n.º 9, Abel Ruiz, o homem do golo).

3 Ou seja, se o Estoril subido no campo do início foi forçado a baixar pela pressão encarnada, o Braga entrou logo com esse plano de bloco baixo desde o princípio como estratégia. No final, acabaram ambos a festejar em cima da goleada estatístic­a sofrida, mas enquanto uma, o Estoril, tivera a maleabilid­ade ousada adaptada à realidade (marcou e aguentou), a outra, o Braga, tivera a cedência da identidade à estratégia (esperou e marcou). Foram, no fim, parar ao mesmo sítio mas com convicções e por caminhos e momentos diferentes.

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Estoril celebrou a passagem à final da Taça da Liga depois de bater o Benfica nos penáltis
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