O Jogo

O talento do jogador e os “pós mágicos” certos

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1

Não será só uma questão de “pós mágicos”. Quando um jogador aparece mais tarde na carreira, tal esconde sempre fatores mais técnico-terrenos, sobretudo quando não se trata de um daqueles casos do jogador dito temperamen­tal, mais dado a caprichos. Rafik Guitane é um talento que saltou à vista mal chegou ao nosso futebol.

Tem, porém, o perfil típico do jogador marroquino que mais do que procurar, parece estar sempre à espera que a bola lhe chegue no momento e no espaço certos. No passado do Estoril, recordo um exemplar semelhante dos anos 80, Bouderbala (brilhou no Mundial’86) que olhava para o jogo com igual forma dengosa e quase trocista de quem sabia que quando recebesse a bola ia fazer cosas que mais ninguém faria. Não teve, porém, o enquadrame­nto certo. O contexto (tempos e ideias) é hoje diferente.

2

Acho que foi isso que mudou Guitane, do Marítimo, e épocas com exibições intermiten­tes, para este Estoril com as ideias de jogo soltas de Vasco Seabra (as mesmas que o fazem ganhar ou perder mas sempre com a * intenção de jogar bem, respeitand­o a bola). Para Guitane, tal criou-lhe um habitat diferente para o seu jogo, quase como um segundo avançado solto mais metido por dentro, no “2x1” do trio ofensivo canarinho, do que descaído sobre a faixa, quase como extremo falso em constantes diagonais, como fazia antes.

Ou seja, o talento sempre esteve lá, mas a forma do jogo lhe chegar é que mudou. Isso e decisivo para o tal talento que mais do que procurar, espera. Entre a ala e o meio, joga num terreno quase indefensáv­el (por não encaixar numa posição clara de marcação do adversário, metendo-se entre lateral e pivô ou central). E, assim, aí está ele a desenrolar o seu tapete voador para levantar sobre as defesas. 3 Abel Ruiz ganhou o direito a ser titular no próximo onze do Braga. Mais do que a opção de tentar jogar com um nº9 móvel como Djaló está a necessidad­e bracarense (sem Banza) de continuar a ter um verdadeiro ponta-de-lança no sistema (mesmo que Ruiz goste mais de vir buscar em largura, vagueando por toda a frente de ataque, dento-foradentro).

Sem esse homem no meio, com poder de finalizaçã­o, a equipa fica demasiado presa na construção e menos solta na definição. Djaló pode, porém, até jogar bem no meio, mas contra os três centrais do Sporting ou em Madrid contra o gigante Rudiger (os jogos em que foi aposta no centro do ataque) é como entregá-lo à marcação. O seu espaço de explosão é a faixa. Redesenhan­do o seu ataque, Artur Jorge reencontra (mesmo sem o diferencia­dor Bruma) a melhor forma de a equipa se mover nos últimos 25/30 metros, sobretudo frente a adversário­s que baixem o bloco (como pode suceder nos momentos em que o Estoril se alinhe a “5”). Então, sim, voltando ao início, o jogo pode ter os “pós mágicos” nos locais certos.

 ?? ??
 ?? ?? Sobre Rafik Guitane e Abel Ruiz recai grande parte das esperanças de Estoril e Braga
Sobre Rafik Guitane e Abel Ruiz recai grande parte das esperanças de Estoril e Braga
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal