O Jogo

Luís Freitas Lobo

- Planeta Futebol

1Ele continua a parecer o mesmo “young boy” que em 2011, com 21 anos acabados de fazer, entrava na casa lendário do Liverpool para durante 12 épocas consecutiv­as ser um cativo do meiocampo de Anfield. Jordan Henderson cresceu em Sunderland mas tornou-se cedo símbolo dos “reds”, embora sem nunca cultivar o mediatismo de figuras do futebol inglês “made paparazzi Beckham”. Foi sempre o que gosto de chamar um médio confidenci­al. Não tinha a explosão com remate de Gerrard, genuíno filho da terra, mas teve sempre a elegância sóbria da visão de jogo com passe. A “estrela discreta” que agora reaparece noutro grande europeu, o Ajax, após alguns meses sem encontrar razão de ser no futebol saudita. Quem quer saber do Al Ettifaq?

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Aos 33 anos, sinto que quer dar sentido à carreira através da forma com que a termine. O momento atual do clube do futebol das revoluções românticas não é o melhor, procurou esta época fazer uma restrutura­ção de jovens talentos no seu onze e o início meteu a equipa nos último lugares da liga holandesa. Um susto que levou a mudança de treinador, regressou um homem da casa, Jonh van’t Schip, dono da transmissã­o da cultura, e a situação(resultados) estabilizo­u. Não pensa no título (mas está colado aos lugares europeus) mas sim na forma de melhor impulsiona­r a sua filosofia num “mundo 2.0”. Nesse sentido, Henderson pode não ser um filho natural de Amesterdão, mas tem o estilo de jogo que encaixa filosofica­mente para dar segurança aos talentos a quererem despontar. É essa a principal razão da sua contração. Uma inspiração de estilo, um inglês com futebol laranja.

3A equipa tem jogadores a nascer com potencial enorme mas que, naturalmen­te, sentem o peso de lhes exigirem o brilho imediato. Vejo isso, a meio-campo, em “craquezinh­os” como o bósnio Tahirovic, 20 anos (nascido no Vasalund, mas que a Roma, desde os sub-19 não soube tratar), um nº6 que liga-se com as dinâmicas do nº8, com passe e chegada à frente; Kenneth Taylor, 21 (produto do “De Toekomst”, o futuro, em tradução livre, nome do centro de treino/ formação do Ajax), com perfeita ligação a conduzir a bola ofensivame­nte desde trás e Hlynsson, islandês de 20 anos (vindo do Breidablik para crescer nas escolas do Ajax e que começou esta época na equipa B, Jong Ajax), um médioofens­ivo “10” quase segundo avançado com técnica agressiva e remate. Igual visão na defesa com dos exemplares saídos da cadeia alimentar da formação, emergente na crescente personalid­ade de Jorrel Hato, 17 anos, defesa-central que joga simples com qualidade de passe e sai a jogar; e Rensch, 21, lateral direito de desequilib­rar a atacar mas com a agressivid­ade certa para ser também defesa, indo nos tempos certos para o corte e “tackle”. Mais dúvidas na frente, onde Brobbey , 21, também crescido em casa, é um ponta-de-lança de estilo demasiado corpulento a quem falta um pouco da ginga elegante da receção e controlo sobre os defesas. Já foi ao Leipzig mas voltou. Vai, porém, fazendo golos.

Henderson no Ajax, símbolo do Liverpool fugindo às Arábias

Henderson pode aparecer, metido nesta base do onze, mas se no ataque ainda há a experiênci­a de Berghuis (muitas vezes recuado) mais o faro de Akpom, no meio-campo tem de existir um toque mais patriarcal a enquadrar o novo talento a nascer sob pressão. É nessa perspetiva que a sua contrataçã­o faz sentido (numa missão que antes fizeram jogadores com estatuto como Tadic e Blind).

No sistema, ele deve vestir a camisola nº6 e jogar a partir dessa posição como “farol” do onze. Nesta fase da careira, já não o vejo a jogar por princípio mais ofensivo, quase muitas vezes como falso ala, a furar na profundida­de e apoio da faixa direita de Liverpool. O tempo e o local são outros. Voltar à seleção inglesa neste contexto seria quase como entrar numa “segunda vida”. A sua forma de jogar... pensando, fazendo a bola correr (e correndo ele cada vez menos) podem ser uma chave para Southgate olhar. O fantástico do futebol é que dá sempre segundas oportunida­des (ou mais) para recomeçar em superação constante ou virar (vingar) o curso do destino que parecia escrito. Henderson não é um rebelde, mas como ele disse ao chegar a Amesterdão: “Só existem erros se não aprenderes com eles. E eu aprendi imenso!”

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