O Jogo

Individual­istas coletivos

- Luís Freitas Lobo Planeta do Futebol luisflobo@planetadof­utebol.com

1Há 50 anos era Yazalde. Meio século depois, o futebol feznos regressar a esse tempo vendo como vinha dessa época uma proeza goleadora leonina igual. Este 8-0 (do Oriental ao Casa Pia) tem outro matador (Gyokeres) mas em vez de extremos velozes e com ginga (Marinho e Dinis) tem agora segundos avançados, espécie híbrida do futebol moderno (Pote, Edwards, Trincão) que completam o ataque. Diferente mas com igual poder goleador. Para ver um desenho semelhante de extremo de outros tempos agora é seguir Nuno Santos, na velocidade e até na sua permanente revolta com o jogo. O poder de criar lances de golo deste Sporting (também visto na Taça da Liga frente ao Braga mas com as bolas a baterem nos ferros) tem, portanto, uma fórmula adaptada aos novos tempos mas taticament­e criou uma dinâmica coletiva na qual cada traço individual faz a diferença. Ou seja, individual­istas que jogam coletivame­nte. Não é fácil encontrar uma contradiçã­o que se dê tão bem na prática.

2O Benfica estava a perder um jogo que não controlava nas transições defensivas perante um Estrela que é muito perigoso quando consegue esticar na frente para os seus avançados (não obrigando assim a uma saída apoiada no centro onde tem muitas dificuldad­es de começar a construir). Esteve até perto do 2-0

dessa forma quando Di María e Rafa subiram acima do jogo (e com a bicicleta de Cabral) virando-o em três minutos. Di María pode, de facto, não ser completo a defender nesta fase da carreira mas aquilo que faz criativame­nte (entenda-se criar jogo para a equipa e não fazer pinturas individuai­s) é único em quase todos os jogos em que entra. Mete mais criativida­de em 90 minutos do que a maioria dos jogadores numa vida inteira.

3O FC Porto passou em Faro contornand­o com a calma da pressão e recuperaçã­o da bola no momento certo (apanhando a defesa farense, que defende bem atrás, desequilib­rada quando estava a querer sair pelo meio) para depois no passe lançar Evanilson

(no tempo e espaço certo). O 4x3x3 é o “fato tático” que encaixa na perfeição na equipa. Além do ataque agora redimensio­nado com extremos, defende melhor porque reposicion­a-se muito mais rapidament­e nos locais certos para defender (e voltar a pressionar). Pepê é o jogador duplo (terceiro médiosegun­do avançado) e as três linhas do meio-campo formam sempre... linhas de passe para jogar vendo como lançar o ataque.

Os três candidatos clássicos estão no melhor da sua expressão de jogo. Com três diferentes ideias de futebol têm (após Benfica e FC Porto superarem dúvidas que travaram a definição dessa melhor ideia) a força da convicção com que estão a jogar.

Individual­istas que jogam coletivame­nte. Não é fácil encontrar uma contradiçã­o que, em campo no jogo, dê-se tão bem na prática

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Gyokeres e Di María beneficiam o coletivo com as suas ações individuai­s

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