Reforços: a tentação das sentenças sumárias
1Não é fácil viver a nossa realidade sem estar sempre a criar cenários. Sobretudo no nosso futebol, onde, a cada janela de mercado, os clubes têm de inventar soluções para suprimir lacunas (comprando onde podem) ou evitar ameaças de perdas (que têm de transformar em bons negócios... inevitáveis). Cada clube, na sua dimensão, vive neste limbo existencial de seis em seis meses. Por vezes, porém, existem ciclos de maior poder económico que permitem soltar mais a cabeça.
O atual Benfica usou esse momento para tentar resolver o problema enigmático da falta de lateral-esquerdo (após desistir de fazer crescer Jurásek) e encontrar um ponta-de-lança acima das dúvidas dos três que tinha (apesar dos sinais, contraditórios positivo-negativo, que cada um deles ia dando de jogo para jogo). Não fez sentido, face às possibilidades atuais, ter andado meia época com a equipa a balançar tanto exibicionalmente por razões que, além da questão tática-coletiva, tinha posições específicas estruturalmente mal abordadas desde início. Embora sendo ambos dos tais jogadores ainda com “casca de ovo na cabeça”, Marcos Leonardo tem tudo para ser o nº.9 com classe finalizadora (com mobilidade diversa) e Alvaro Carreras um novo projeto de lateral-esquerdo a sério.
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No FC Porto, a contratação de um central (após lesão de Marcano, depressão de Carmo e desgaste de Pepe) seria vista, qualquer que chegasse, antes como uma peça indispensável do onze e só depois analisado individualmente pelo que pode valer. É a contratação/reforço mais objetiva entre todas dos grandes.
Otávio deu sempre sinais de qualidade (posicional de corte, personalidade destemida e saída simples), mas o inevitável túnel de passagem da equipa médiapequena para a grande, nunca se sabe bem, sobretudo a meio da época, que impacto terá nisto tudo que se vê num lado e às vezes desaparece noutro. Não é ilusionismo. É o futebol jogado na cabeça com o peso da camisola.
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A maior expectativa em termos de efeito tático, até porque se trata de um médio (isto é, para o setor sala de máquinas que faz verdadeiramente as equipas funcionarem ou não) está na tentativa de mais uma contratação cirúrgica do Sporting (que, no mercado anterior de Verão, foi quem contratou menos e... melhor). Koindredi ainda não se tinha fixado como indiscutível no onze do Estoril, mas os traços que combina entre pressão e saída de bola (intensidade e criação) são os que o meiocampo leonino “a dois” necessita para a posição nº.8 (podendo fazer mais posições, ou ocupar mais espaços na tal polivalência de médio para diferentes linhas que o jogo de Amorim necessita no centro, além de Morita-Hjulmand). Tudo se irá esclarecer depressa porque o futebol não abranda com a sua irresistível tentação de ditar sentenças sumárias