O Jogo

“Não vejo ser possível manter o Rúben Amorim”

Conhece o técnico dos leões há muitos anos e acredita que o Sporting será campeão esta temporada. Entende que a ascensão de Matheus Nunes é um caso de estudo

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Trabalhou com Pedro Bondo, jovem angolano que tenta a sua sorte nos leões – para já na equipa B. “Quando chegou ao Petro demonstrou logo que era um jogador com qualidade superior”, diz o técnico.

Alexandre Santos é um velho conhecido de Rúben Amorim. O técnico, de 47 anos, cruzou-se com o treinador dos leões nos sub-19 da seleção de Lisboa e, mais tarde, no Braga, na altura como adjunto de José Peseiro. Nesse momento, Amorim estava incompatib­ilizado com Jorge Jesus e deixou momentanea­mente o Benfica para dar sequência à sua carreira no emblema minhoto.

que a primeira hora acredita desde nacional vai ser campeã a equipa leonina

O Sporting está no caminho certo para ser campeão?

—No início da época fiquei logo com a sensação que estava ali uma equipa que tinha as caracterís­ticas quefaltara­mnaépoca anterior. Há claramente uma simbiose entre aquilo que o Rúben dizia que precisava e o que a equipa transmite. Este Sporting pode ser novamente campeão e isso deve-se muito ao trabalho de estabilida­de e continuida­de.OSportings­abe para onde quer ir.

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A saída de Rúben Amorim no final da temporada é uma inevitabil­idade?

—O Rúben foi meu jogador na seleção de Lisboa e ainda não tinha sido convocado para as seleções jovens e já se dizia nessa altura que era um dos melhores sub-19 do país na sua posição. Já naquela altura ele demonstrav­a algo muito particular: era feliz. Mesmo sem nunca ter sido convocado para outras seleções e mesmo com toda a gente a dizer que era o melhor da sua idade, nunca o vi insatisfei­to na seleção de Lisboa. Para alguns jogadores, aquela seleção parecia que já não chegava, era insuficien­te, mas o Rúben demonstrav­a o contrário: a felicidade dele era a mesma estando ali ou na melhor seleção do mundo. Depois fez uma brilhante carreira. Entretanto,

voltei a encontrá-lo mais tarde no Braga, quando lá estive com o José Peseiro, e ele era aquilo que é hoje como treinador, tem uma forma fácil de lidar com a vida. Queria sempre jogar, mas não era por não jogar que andava cabisbaixo. Dava sempre alegria ao balneário. Isso tem a ver com a postura dele perante a vida.

Mas parece-lhe que está talhado para outros voos?

—Ele diz que está bem no Sporting [sorrisos]. Se calhar ele nunca pensou que o Sporting pagaria dez ou 15 milhões por ele e se calhar agora também não pensa que outro clube o levará para outros projetos e leva. Não vejo ser possível o Rúben manter-se para sempre no Sporting.

Conhece bem Pedro Bondo, considera que este jogador tem capacidade para impor-se no Sporting?

—O Pedro enquadra-se nos jovens jogadores que aparecem de repente mas que não têm escola, nunca jogaram em lado nenhum. São talentos natos. Começou a jogar aos 15/16 anos. Tinha muitas dificuldad­es de vida, vivia sem teto. Quando chegou ao Petro demonstrou logo que era um jogador com qualidade superior, sobretudo em comparação com os outros da sua idade. Ficou na Academia e passou a alimentar-se diariament­e porque até ali só comia o que conseguia arranjar ao longo do dia. Não tinha sequer um teto para viver. Vivia ao deus-dará. Entretanto, chegou à equipa principal e eu apanho-o no segundo ano na equipa A e lanço-o como defesa esquerdo. Às vezes, tinha dificuldad­e em acompanhar os treinos diários porque tinha hábitos alimentare­s desregulad­os.

Além do Sporting, mais alguns clubes perguntara­m por ele?

—A verdade é que os três clubes grandes perguntara­m-me pelo Pedro Bondo. O Sporting fez o maior cerco e foram querendo saber mais coisas. Avisei logo que era preciso ter algum cuidado na fase de adaptação porque não se passam 15 anos na rua e de repente tem-se maturidade para ser jogador profission­al. Foi mais ou menos o mesmo que se passou com o Matheus Nunes, embora este caso tenha caracterís­ticas diferentes. Quando entrei no Sporting perguntara­m-me como é que ele era, porque esteve no Estoril comigo. Sem seis anos de alto nível como os outros, se calhar este jogador estava mais preparado do que outros que têm dez anos de formação ao mais alto nível mas que se calhar já atingiram o nível máximo. O que ele faz está na sua génese. A história do Matheus é quase única porque normalment­e o passado dos jogadores determina o futuro.

“[Pedro Bondo] Ficou na Academia e passou a alimentar-se diariament­e porque até ali só comia o que conseguia arranjar ao longo do dia. Não tinha sequer um teto para viver”

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