O Jogo

Até que idade pensas crescer?

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1 Durante muito tempo, criou-se a ideia que para render tinha de ter um amigo (outro avançado em dupla de ataque) que lhe metesse a bola a jeito de finalizar. Taremi tornou-se, assim, o melhor amigo de assistênci­as de Evanilson ao ponto de já era difícil imaginar o que seria a jogar a nº.9 sozinho. A passagem do sistema preferenci­al portista do 4x4x2 para 4x3x3 promoveu, além dos extremos que fazem dançar defesas, o aparecimen­to dum novo Evanilson, o revelar do nº.9 diferente que sempre existiu dentro dele. Em vez de só a presença na área à espera da bola certa para finalizar, a forma como se movimenta, muitas vezes recuando para jogar de costas em apoios (levando o central adversário atrás) permite ver outros traços do seu jogo coletivo e não só o finalizado­r.

Está mais metido no jogo coletivo da equipa e não só no espaço da área que era como o seu jogo individual. Diriam que está mais trabalhado­r. Não gosto dessa palavras aplicada ao futebol. Eu diria mais culto taticament­e e completo nos diferentes momentos de jogo. Em vez de só finalizar jogadas * de outros, também passou a construir (à sua maneira) para ele e para os outros. Chama-se cresciment­o de tática individual (neste caso provocada pelas novas exigências da mudança de sistema).

2 Tenho gostado de ver Trincão a agarrar as oportunida­des de jogar mais tempo no Sporting. A equipa tem no sistema um território entrelinha­s muito bem montado para meter estes vagabundos ofensivos (segundos-avançados com golo que gostam de aparecer sem... estar). Jogam atrás do nº9 que parte os centrais e à frente dos médios que seguram o coletivo. Soltos no tal quase “espaço tático independen­te”, rebeldes como Pote, Edwards e agora mais Trincão têm o local ideal para atirar pedras às janelas defensivas dos adversário­s e partir-lhe os vidros. Trincão sempre revelou talento desde que despontou nos berços do Braga mas a sua entrada no nível sénior a sério não respeitou as regras básicas do cresciment­o de qualquer ser humano, futebolíst­ico ou não. Ir para Barcelona foi um delírio negocial que ia desfazendo o jogador para a carreira toda no sentido de lhe retirar as bases naturais de cresciment­o. Não estava, naturalmen­te, preparado para uma camisola tão grande. Andou ainda a ver o que se fazia o Wolverhamp­ton até que, por fim, voltou ao ensino secundário certo em Alvalade. Agora, sim, provas táticas de aferição cumpridas, pode frequentar a universida­de tática do futebol.

3 Não perguntem até que idade um jogador pode crescer. Perguntem até onde ele o pensa fazer. A resposta certa terá de ser sempre até ao último dia de carreira, mas sem o ensino básico certo (que tantas sereias negociais distorcem) pode-se compromete­r uma vida futebolíst­ica inteira. Trincão salvou-se a tempo!

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Evanilson e Trincão ganham protagonis­mo no FC Porto e Sporting, respetivam­ente
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