Até que idade pensas crescer?
1 Durante muito tempo, criou-se a ideia que para render tinha de ter um amigo (outro avançado em dupla de ataque) que lhe metesse a bola a jeito de finalizar. Taremi tornou-se, assim, o melhor amigo de assistências de Evanilson ao ponto de já era difícil imaginar o que seria a jogar a nº.9 sozinho. A passagem do sistema preferencial portista do 4x4x2 para 4x3x3 promoveu, além dos extremos que fazem dançar defesas, o aparecimento dum novo Evanilson, o revelar do nº.9 diferente que sempre existiu dentro dele. Em vez de só a presença na área à espera da bola certa para finalizar, a forma como se movimenta, muitas vezes recuando para jogar de costas em apoios (levando o central adversário atrás) permite ver outros traços do seu jogo coletivo e não só o finalizador.
Está mais metido no jogo coletivo da equipa e não só no espaço da área que era como o seu jogo individual. Diriam que está mais trabalhador. Não gosto dessa palavras aplicada ao futebol. Eu diria mais culto taticamente e completo nos diferentes momentos de jogo. Em vez de só finalizar jogadas * de outros, também passou a construir (à sua maneira) para ele e para os outros. Chama-se crescimento de tática individual (neste caso provocada pelas novas exigências da mudança de sistema).
2 Tenho gostado de ver Trincão a agarrar as oportunidades de jogar mais tempo no Sporting. A equipa tem no sistema um território entrelinhas muito bem montado para meter estes vagabundos ofensivos (segundos-avançados com golo que gostam de aparecer sem... estar). Jogam atrás do nº9 que parte os centrais e à frente dos médios que seguram o coletivo. Soltos no tal quase “espaço tático independente”, rebeldes como Pote, Edwards e agora mais Trincão têm o local ideal para atirar pedras às janelas defensivas dos adversários e partir-lhe os vidros. Trincão sempre revelou talento desde que despontou nos berços do Braga mas a sua entrada no nível sénior a sério não respeitou as regras básicas do crescimento de qualquer ser humano, futebolístico ou não. Ir para Barcelona foi um delírio negocial que ia desfazendo o jogador para a carreira toda no sentido de lhe retirar as bases naturais de crescimento. Não estava, naturalmente, preparado para uma camisola tão grande. Andou ainda a ver o que se fazia o Wolverhampton até que, por fim, voltou ao ensino secundário certo em Alvalade. Agora, sim, provas táticas de aferição cumpridas, pode frequentar a universidade tática do futebol.
3 Não perguntem até que idade um jogador pode crescer. Perguntem até onde ele o pensa fazer. A resposta certa terá de ser sempre até ao último dia de carreira, mas sem o ensino básico certo (que tantas sereias negociais distorcem) pode-se comprometer uma vida futebolística inteira. Trincão salvou-se a tempo!