O Jogo

Atirar ao Rio

- Veludo Azul Miguel Guedes

Às tantas, foi um mergulho em apneia. Assumidame­nte a exercer o azar como denominado­r comum, o FC Porto encontrou a roleta do desacerto e empatou uma partida de sentido único, travo amargo e injusto para o que a equipa fez e projectou no seu futebol. Não há desculpas se não a de que o futebol é mesmo assim. Há momentos, como tantas vezes sucede, onde os adeptos celebram uma vitória que cai dos céus. Outros, em que a vitória mais que justa, não aparece nem que os deuses desçam ao relvado. Para uma equipa com margem de erro, um deslize é matéria recuperáve­l, logo a seguir. Para uma equipa que já deu a vantagem indevida aos seus adversário­s mais próximos, pode ser fatal.

Apostado em repetir os bons resultados dos últimos jogos, Sérgio Conceição optou por reverberar o onze que mais garantias lhe tinha dado num sistema de 4-2-3-1 que aportou soluções diferentes e mais capazes ao jogo colectivo. Dúvidas não havia de que qualquer mudança que pudesse ser introduzid­a seria um trunfo caseiro entregue ao adversário, transforma­ção que não seria surpresa mas antes supressão do momento e do estado de graça. Este, o da graça, não acabou num empate, mas encontrou um muro que protegia um Rio e impedia o colapsar defensivo das pontes. Avé Rio ou lado verde da força. As repercussõ­es do que se perde em dois pontos não se mede tanto neste par de pontos, mas antes no que está para vir. Este onze não se pode sobressalt­ar pela perda, só pelo que pode deixar de ganhar. Nunca, esta época, o FC Porto fez tanto para merecer somar os três pontos. Admitir que o Rio Ave fez muito e mais do que suficiente para amealhar pontos seria também negar que se o FC Porto goleasse, estaríamos perante um resultado justo. A aposta no mesmo onze por parte de Conceição solidifico­u ideias e transmitiu à equipa a sensação de dever cumprido mesmo que, por azar ao jogo, não cumprisse a sua linha e bingo de três pontos. Há uma roleta chamada futebol a que nenhuma equipa, por maior que seja, é alheia. Este foi o jogo onde mais esperança tive numa vitória que sucedesse a um empate.

Nada está perdido mesmo para os menos crentes.

Há mais para além deste empate, embora a margem de erro seja agora de zero ou pouco mais

Para além de uma segunda volta onde recebe os seus adversário­s mais directos, o FC Porto conta com um acervo de alma que se tem vindo a reforçar pela confiança nos novos processos. Não pode ser o futebol-a-ser-futebol que vai hipotecar esta equipa do desígnio de ser campeão. Só mesmo a falta de confiança naquilo a que tardiament­e chegou há semanas - e que agora sofreu o primeiro revés – pode criar obstáculos intranspon­íveis. Há algo em que Sérgio Conceição deve insistir mesmo que tenha sido manifestad­o numa convicção tardia. Há mais para além deste empate embora a margem de erro seja agora de zero ou pouco mais.

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