O Jogo

Quando a polícia faz o papel de vilão

- Jorge Maia

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No mesmo dia em que garantiu as condições de segurança para a realização de uma manifestaç­ão de extremadir­eita pelas ruas de Lisboa onde se gritaram palavras de ordem xenófobas e racistas, a PSP resolveu boicotar um jogo de futebol. Boicotou-o depois de ter oferecido garantias de que estariam reunidas todas as condições de segurança para que pudesse acontecer. E fê-lo apresentan­do uma avalanche de baixas que, pelo número e consistênc­ia, têm todo o ar de ser fraudulent­as, embora isso seja algo que as entidades competente­s deverão tentar perceber mais adiante. Se forem, na prática, os polícias fizeram batota, o que é a última coisa que se espera de um polícia, logo a seguir à proteção dada a racistas, claro. Sucede que, para além do jogo de futebol, que cá entre nós é só a coisa mais importante das coisas menos importante­s, esse boicote colocou em risco a segurança dos milhares de adeptos que se deslocaram ao Estádio do Famalicão para assistirem à partida. Houve distúrbios, houve medo e houve feridos. Tudo o que não devia haver se tivesse havido Polícia. A luta dos agentes da PSP por melhores condições de remuneraçã­o é tão justa como a luta de quaisquer outros trabalhado­res. E como acontece com a luta de quaisquer outros trabalhado­res, é natural que haja quem acabe prejudicad­o por ela. Mas instrument­alizar o mediatismo de um jogo de futebol sem atender à segurança dos cidadãos que a ele pretendem assistir, esvazia de razão qualquer protesto e deixa a Polícia no inesperado e desconfort­ável papel de vilão.

2Rúben Amorim garantiu que sairia pelo próprio pé do Sporting se não ganhasse nada esta temporada. Ficou a faltar saber se o inverso também é verdade: se garante que fica no Sporting se ganhar alguma coisa, desde logo o campeonato, que traçou como prioridade natural. As notícias que dão conta do interesse do Liverpool no treinador do Sporting para substituir Klopp são demasiado prematuras para lhes ser dada total credibilid­ade, até porque nestas alturas há sempre longas listas de hipóteses para a sucessão. Mas ninguém duvida que Rúben Amorim é um treinador com mercado agora e será, inevitavel­mente, um alvo ainda mais apetecível se confirmar as boas exibições desta temporada com a conquista do título de campeão e o que mais possa fazer na Liga Europa. Mais ainda, se conseguir recuperar o campeonato para os leões frente a um Benfica que continua a atirar milhões para cima dos problemas, armando Roger Schmidt até aos dentes. Os encarnados investiram um recorde 40 milhões de euros em janeiro para corrigirem os erros de casting cometidos no verão que, entre outras coisas, lhes custaram a continuida­de na Liga dos Campeões, a Taça da Liga e o ponto de atraso para os leões com que entram nesta 20.ª jornada. Quando Amorim diz que o Sporting tem de ser campeão este ano, já consciente do arsenal contratado pelas águias nesta janela de transferên­cias, está a elevar a fasquia, no mínimo, acima dos encarnados, o que não deixa de ser uma demonstraç­ão de confiança assinaláve­l. O que nos leva de volta ao início. A dúvida que inquieta os sportingui­stas, e que apenas Rúben Amorim pode desfazer, não é se sai caso não ganhe nada, mas se fica caso ganhe o campeonato.

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Cara e coroa

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