Sobra a pergunta dos milhões de euros
Tal como muitos vitorianos, ouvi a entrevista que António Miguel Cardoso (AMC) deu esta semana. Uma entrevista que se saúda, pois contribuiu para o esclarecimento de algumas dúvidas que a atualidade suscitava. No geral, o tom usado pelo presidente reflete aquilo que abordei na última crónica: as dificuldades financeiras com que o clube ainda hoje se debate. Sem receitas televisivas até 2025 (e, acrescento eu, sem os valores que pudessem ter resultado de uma participação europeia), só vendendo em janeiro o Vitória poderia equilibrar as contas.
E isso leva-nos à conclusão que se pode retirar do que foi dito e de tudo o que se passou em janeiro: a janela de mercado correu-nos muito mal. Vendemos pouco, por valores difíceis de aceitar, e ficámos muito longe da meta que tínhamos definido como fundamental. O que a entrevista deixou por responder foi a questão do milhão de dólares (ou dos milhões de euros, melhor dito): como vamos fazer para aguentar o tal barco nos meses que restam de temporada? Este, o balanço financeiro. Sob o ponto de vista desportivo, o “sai, não sai, sai mesmo e afinal fica” de André Silva acaba por deixar o plantel em condições de serem atingidos os nossos objetivos. O problema é que não podemos separar as duas perspetivas (financeira e desportiva) como se se tratassem de realidades estanques, porque uma pode contaminar a outra. E essa é a minha maior preocupação.
Das restantes partes da entrevista, saliento aquela relativa ao famigerado casamento com o V Sports que se encontra, segundo se percebeu, “em pousio”, e
Parecemos condenados a mudar de líder com muito maior frequência do que aqueles clubes com quem queremos competir
assim estará por mais um bom tempo. Uma parceria que, até agora, serviu basicamente para resolver o nosso problema com a MAF e pouco mais. Finamente, uma novidade que AMC deixou aos associados tem a ver com ele próprio. Não sendo certo se será recandidato no final deste mandato, assegurou que nunca fará mais do que um possível segundo. Ninguém tem o direito de questionar a legitimidade de quem ocupa aquele cargo em querer outras coisas para a sua vida. Até porque, mesmo que nós, adeptos, quiséssemos imaginar a pressão que deve ser assumir tamanha responsabilidade, não o conseguiríamos.
Mas, independentemente do juízo que cada um faça acerca de quem lá está, o certo é que parecemos condenados a mudar de líder com muito maior frequência do que aqueles clubes com quem queremos competir. Algo que nos deve fazer refletir a todos.