Foi você que pediu um Porto novo?
Pinto da Costa apresenta hoje, no Coliseu, a sua candidatura ao décimosexto (!) mandato como presidente, sob o signo da renovação e da mudança, que é justamente a bandeira do seu principal adversário, André VillasBoas. A comunicação da sua candidatura fala até de um “Porto novo” e de uma “nova era”. Para quê, se quem quiser isso terá de se voltar para a candidatura do rival? E que renovação poderá ser essa? Trocar dois ou três nomes é a mudança possível; e mais do que isso, aliás, seria uma auto-crítica, uma correcção do que foi feito. O slogan, “Todos pelo Porto”, também é de uma absoluta nudez significante e o próprio presidente, agastado por ter de lutar por um lugar que julgava pertencer-lhe até ao final da vida, tem acumulado reacções emocionais e desastradas. A tentativa de rebaixamento de Villas-Boas, por ter feito o que tantos outros, naturalmente, fizeram, como Artur Jorge e Mourinho, por exemplo, mais a sua associação aos inimigos do clube, foi um mau passo. E o modo como passou a culpa do fracasso dos reforços para as costas do seu treinador foi outro mau passo. Na verdade, Pinto da Costa está a cometer erros de principiante porque é um principiante em eleições a sério, todas as outras foram meras formalidades burocráticas. Também por ver como se vão somando os sinais da instabilidade do seu cargo, o que sempre pareceu impossível. Tudo começou na assembleia geral que ia mudar os estatutos à bruta e acabou por revelar um mar de contestação e coragem, que estava sufocado, submerso. Depois, veio o golpe da neutralidade de Sérgio Conceição, que se furtou à missão de trunfo eleitoral e o deixou, como dizer?, destrunfado. Neste caso, também ficámos a saber que o idílio (presidente-treinador) foi lindo, mas já lá vai e acaba em Junho. Por fim, chegou a “Operação Pretoriano”, que, mais do que expôr a relação promíscua da direcção com a claque, esse ninho de gente com mestrados em práticas violentas e ilícitas, é um golpe que acaba com a impunidade e o medo. Pode muito bem ser o princípio do fim da macacada.
É, pois, neste quadro crepuscular, de fim de ciclo, que Pinto da Costa iniciará hoje uma campanha em que vai pedir aos sócios mais algum tempo de vida imperial, pois tem ainda nele “todos os sonhos do mundo”. A sua história singular de sobrevivência tem um lado heróico, mostra-nos um homem inconformado, a conspirar contra as supremas leis da vida e em luta contra a idade, a doença, a mortalidade, a transitoriedade da existência, enfim. Mas tem também um lado patético, por nos mostrar um homem que, depois de mais de quarenta anos de poder, em que realizou sonhos impossíveis, conquistando, pelos seus feitos, a eternidade e que, portanto, podia estar em casa, tranquilo, coroado de admiração e respeito, talvez a decorar mais uns poemas ou a posar para a tal estátua onde os cães irão urinar, e está ainda disposto a lutar duramente por mais alguns sonhos, como qualquer principiante. Dá que pensar.
Vem aí um Porto novo, uma nova era, eis o que ele hoje dirá aos sócios. E quem quiser que acredite.
Aos domingos - Este espaço é ocupado, alternadamente, por Carlos Tê e Álvaro Magalhães
Tudo começou na assembleia geral que ia mudar os estatutos à bruta e acabou por revelar um mar de contestação e coragem, que estava sufocado, submerso