O Jogo

“Oi, cara, cheguei para marcar muitos golos”

- Carlos Pereira Santos

Mário Jardel marcou o futebol português, era um doido pelos golos. Os clubes vivem obcecados em encontrar um igual. Não está fácil...

Numa tarde quente de agosto em 1996, chegou ao aeroporto de Pedras Rubras um desconheci­do Mário Jardel, um rapaz sorridente, sem medo do futuro, procurando com o olhar onde estariam os jornalista­s. O funcionári­o do FC Porto desviou-o da rota, mas a malta foi no seu encalço, descobrimo­s o hotel onde ia ficar, o funcionári­o foi à vida dele e pouco tempo depois Mário Jardel estava no passeio em frente a falar connosco. Que personagem! Tinha 23 anos, vinha de uma boa época no Grémio, tinha também o Benfica a pensar nele. Lembro-me de lhe ter feito uma daquelas perguntas inteligent­es que às vezes os jornalista­s fazem: “Qual é o seu objetivo”? E ele, sorrindo, respondeu-me o óbvio, com muita confiança: “Então, cara, eu venho para ser o o melhor marcador. Vou marcar muitos golos”. Bem, para além de uma grande alma, Jardel era gajo de cumprir promessas. Esteve quatro anos no Porto, foi o melhor marcador nas quatro épocas, sendo que na última em 2000 marcou 56 golos! Foi uma época para o Galatasara­y e regressou ao futebol português para duas épocas brilhantes no Sporting. Depois seguiu outros caminhos e deixou um sensação de vazio no futebol português. tenho a ideia de que desde a partida de Jardel, os clubes vivem obcecados em encontrar um

novo Mário Jardel (talvez Falcao e Jonas tenham sido os que mais se aproximara­m). Encontrar um bom ponta-de-lança, um goleador, que “aceite” vir para o futebol português não é nada fácil, porque há sempre os milionário­s do futebol europeu (e agora da Arábia Saudita...) dispostos a desembolsa­r o dinheiro que não temos para ficarmos com os melhores.

O Sporting tem um excelente ponta-delança, que vai embora no verão, o FC Porto, passado o calvário do brasileiro, tem Evanilson, que não é um supercraqu­e, mas é um bom avançado centro, agora às portas da seleção. E o Benfica? o Benfica ainda procura o melhor para o seu estilo de jogo... Marcos Leonardo, Casper Tengstedt, Arthur Cabral, e há

quem seja de opinião que o melhor, Musa, foi vendido. Mas parece que Roger Schmidt pode mesmo ter encontrado, finalmente, o homem ideal: Arthur Cabral, a quem até manco já chamaram, mas que em breves apontament­os técnicos calou os detratores e é com mais facilidade que chega ao golo. É verdade que se olharmos ao histórico, Arthur Cabral nunca foi jogador de marcar muitos golos, mas numa equipa que tem Di María e Rafa o caminho para o êxito fica mais livre.

Claro que o ideal para o gastador Roger Schmidt era que o Benfica conseguiss­e descobrir um novo Mário Jardel, já que pedir um Eusébio era como acreditar no regresso de D. Sebastião. Mas não está nevoeiro e o rei caiu em Alcácer-Quibir.

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Arthur Cabral parece, agora, ser o goleador que Schmidt procurava

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