“Dava a cara”
REFERÊNCIAS Inglês elogia João Pinto como líder, a classe de Nuno Gomes e o surpreendente Calado
Antigo lateral mergulha no baú do tempo e lembra a sua vontade de se integrar, de falar português, lamentando a solidão que sentiu a certa altura e que contribuiu para que fosse para o West Ham.
Entre muitos colegas, Minto avalia a dimensão do craque da companhia.“A dependência de João Pinto era clara. O João era o líder e o que mais respeitava nele era quando as coisas não corriam bem, ele dava a cara pela equipa, era um capitão e um símbolo enorme do Benfica. Sempre queria a bola, não se escondia e, se lhe faltou confiança, nunca transpareceu. Pegava no jogo em situações difíceis, se estivéssemos a perder tentava fazer algo diferente. Mas tínhamos outros jogadores muito bons”, atira. “Calado era meu colega de quarto, foi dosmelhoresnoprimeiroano. Nuno Gomes era um grande finalizador com ótimas movimentações e acerto inacreditável. Deve ser sido um dos melhores avançados já produzidos por Portugal e era dos melhores da Europa na altura. Mas quem suportava toda a pressão era JoãoPinto”, elucida o antigo lateral.
“Adaptei-me bem porque gostava de aprender línguas, desde a escola, e sempre gostei das mulheres latinas. Fazia férias em Espanha, Portugal e Itália, após terminar a época em Inglaterra. Só podia ser uma ótima experiência, tentei jogar e dar o meu melhor. Apanhei um futebol mais lento, mas todas as ligas eram mais lentas do que a inglesa. Mas era muito mais técnico. E jogando numa das grandes equipas, tanto em casa como fora, teríamos muita bola. A ideia principal era desmembrar o adversário e, nem era fácil, porque os defesas em Portugal eram também tecnicamente dotados”, reconhece. “Tinha de pensar na equipa, como lateral não me cabia decidir um jogo, cabia-me anular o extremo e avançar no campo com cabeça para encontrar os mais talentosos e ajudar estes a fazerem golo. Adorei tudo o que vivi, inclusive a Liga dos Campeões. A única deceção foi não ter sido campeão português”, defende Minto, que trocaria em janeiro o Benfica pelo West Ham, juntando-se a um plantel que tinha Rio Ferdinand, Lampard, Joe Cole ou Di Canio, que encerraria o campeonato no quinto lugar.
Souness escondeu coisas de Vale e Azevedo ao plantel “A passagem por Portugal foi brilhante. Houve clubes que se interessaram, após a primeira temporada, o West Ham um deles, e eu disse não. Mas, entretanto, fiquei solteiro e sentia alguma solidão, noites em casa sem companhia. Adorava o estilo de vida, o clima e a comida, acompanhado teria ficado mais tempo. E as pessoas respiravam futebol. Jogar num clube da dimensão do Benfica era incrível, perante 60 ou 80 mil pessoas. Mas fui feliz no West Ham”, invoca o antigo lateral, que conseguiu sobreviver sem dores de cabeça a uma era turbulenta na Luz, pois o clube era assolado por casos extra-futebol. “O Vale e Azevedo não o víamos muito, o Souness soube esconder algumas coisas. Protegeu-nos de problemas maiores, porque, para ele, tudo girava em torno do futebol. Os problemas do presidente não me afetaram, não havia relacionamento com ele”, justifica, confrontado com o FC Porto, que acabou por prevalecer como campeão.
“Conseguimos uma recuperação fantástica, o FC Porto na segunda volta parecia o Benfica da primeira. Se Souness tivesse começado, acho que teríamos conquistado o título. Eles tinham o Jardel, que marcava golos de cabeça fenomenais. Decidiu muitos jogos. Já não me consigo lembrar do nome dos alas, além do Conceição. Vou-me lembrar mais tarde”, graceja Minto, sem esquecer a “qualidade de Sérgio Conceição, Capucho e Drulovic”. “O pior adversário acho que foi o Simão Sabrosa, que depois foi para o Barcelona. Outras memórias incríveis dos jogos frente ao Sporting. Conseguimos ganhar em Alvalade 4-1 com uma assistência minha. Fiquei muito feliz por essa exibição”, nota, resumindo a vida em Portugal. “Foi fantástico ter sido o primeiro inglês a jogar no Benfica, todos queriam falar comigo e eu tentava aprender português, quando todos tentavam aproveitar a minha presença para falar inglês.”