“Superliga mata-nos a médio prazo”
Laporta diz que os grandes portugueses estariam dispostos a entrar no projeto, mas Proença frisa que os três estão alinhados com o modelo da UEFA
A Superliga Europeia continua a ser um tema incómodo e sensível para a UEFA. Pedro Proença está totalmente contra esse projeto que, segundo diz, apenas serve os interesses de uma pequena elite.
NUNO VIEIRA
O projeto que visa combater ●●● o monopólio da UEFA acena com milhões, mas Pedro Proença desmonta a ideia de que isso possa ser favorável aos principais clubes portugueses.
A Superliga Europeia tem causado grande impacto no mundo do futebol. Reage com surpresa às recentes declarações de Joan Laporta, ao dizer que essa competição pode mesmo estar a avançar?
—Nãocomentareiafirmações de Laporta ou de qualquer dirigente que ache que o futebol pode viver de uma pequenina elite e que essa elite, por si só, pode centralizar um conjunto de receitas. O futebol vive da sua pirâmide. Não há futebol de elite se não houver uma base forte. A pirâmide do futebol mundial começa nos distritais, passa nas competições nacionais, depois atinge as provas profissionais domésticas e uma pequena nata compete internacionalmente. É esse o modelo que permite que um clube que começa no distrital possa um dia ganhar a Champions. Só o mérito desportivo pode fazer ganhar qualquer coisa. Se criarmos uma elite fechada que se alimenta de todas as receitas, toda a pirâmide vai secar. O futebol durará mais 10 anos, mas nessa altura, quando precisarmos que a base continue a criar talento para alimentar a estrutura, esta elite morreu. Viveu bem durante 10 anos e depois não há quem a alimente. Essa visão piramidal não pode ser alimentada com uma Superliga. Isso não funciona. O mérito desportivo deve estar na base do sucesso de qualquer competição.
Os três grandes portugueses foram claros nas suas posições em dezembro, ao demarcarem-se da Superliga. No entanto, Laporta disse que Benfica, Sporting e FC Porto teriam disponibilidade imediata em aderir ao projeto. Tem indicação de que houve uma inversão de ideias dos nossos principais clubes?
—Os clubes portugueses percebem que uma Superliga, a médio prazo, mataria o futebol português. O caminho não pode ser esse. Os maiores clubes em Portugal precisam da base da pirâmide. Se de repente tivermos três clubes a convergir para uma Superliga, como ficariam as competições domésticas? Morriam e não seriam alimentadas. Os clubes em Portugal são contra a Superliga. Há um alinhamento completo e não é só por estarem na Liga Portugal com uma filosofia transversal, mas também porque esses clubes, em concreto, pertencem à ECA, que demonstrou publicamente que uma Super liga mataria o futebol a médio prazo.
“Se criarmos uma elite fechada que se alimenta de todas as receitas, toda a pirâmide vai secar”
“O mérito desportivo deve estar na base do sucesso de qualquer prova”
“Os clubes portugueses são contra. Há um alinhamento completo”
Tem a convicção de que a ideia, apesar de suportada por grandes clubes como Barcelona e Real Madrid, não tem pernas para andar?
—Direi que agora não tem, mas temos noção que esta his
tória vai voltar. Haverá uma pequena elite que acha que se pode apropriar de tudo, um pequeno capitalismo que quer agregar aquilo que deve ser o espírito socialista do futebol. Parece antítese ser o presidente da Liga a dizê-lo, mas é verdade. Tem de haver noção clara de que o mérito desportivo é que deve estar na base do desporto e do futebol. É assim que uma liga média ou pequena como a nossa consegue ter clubes campeões da Europa, que ganham grandes troféus e conseguem alcançar um lugar que por orçamentos nunca teriam hipótese de conquistar.