A equipa vista como um organismo vivo
1Uma das melhores definições que li sobre uma equipa de futebol foi a que equiparava ao organismo humano, em função dos setores, jogadores e obrigações táticas: “Tem órgãos que se adaptam ao mau funcionamento de outros. Há uma parte de vida vegetativa, quase automática, outra de reflexão espontânea e uma inteligência que controla quase tudo”.
É tentador fazer o paralelo do “mau funcionamento” com os jogadores que, por mais diferenciadores que sejam a atacar, dizem depois que falham “porque não defendem”. Com isso, obrigam outros a adaptar-se a essa realidade para compensar a dita falha quando ficam em “vida tática vegetativa”.
Esta é, porém, uma relação obrigatória. Isto é, deve-se sair da crítica individualizada e ir para o único plano que acho completo: o do processo coletivo (neste caso no processo defensivo adaptado às circunstâncias de como se... ataca).
2Penso que esta pode ser uma boa forma de olhar para Di María, o criativo avançado que depois demite-se de participar de forma sistemática no momento defensivo. Como considero indispensável ter craques desse nível, os problemas defensivos encarnados devem, portanto, ser vistos não por causa dum jogador ou outro, mas sim do processo da equipa, que tem de saber preparar-se para esses momentos, sobretudo os logo seguintes à perda da bola.
Ou seja, é preciso a tal inteligência que controle o mau funcionamento tático desse momento para impedir que a equipa fique então toda desequilibrada defensivamente. Num 4x4x2 com Di María a extremo solto e Rafa segundo-avançado vagabundo, o meio-campo, em tese “a dois”, necessita da compensação doutros elementos.
Na época passada, com falsos alas João Mário-Aursnes, a compensação estava feita por natureza. Nesta, só com um elemento híbrido desses que faz de terceiro médio, este tem de ter uma capacidade físicotática a nível superior.
Éofator que faz João Mário, melhor na posse, visão e passe, perder para Aursnes, mais limitado em todos aqueles parâmetros, mas mais físico a recuperar para ser o auxiliar defensivo. Uma constatação tão desoladora como natural em face do que a equipa precisa nesse momento.
3Os problemas defensivos do Benfica devem, assim, ser vistos como um problema de processo e não dum ou outro jogador porque estes não podem ser taticamente valorizados individualmente, mas como complementares unsd os outros.Éa tal equipa como organismo vivo. Um conclusão fácil de tirar vendo como um dos jogos em que defendeu melhor foi em Braga, quando se fechou num bloco-baixo atrás da linha da bola. O contrário da pressão alta que deve ter como equipa grande (e fazia a época passada, permitindo a João Mário ser a inteligência) mas que perdeu esta época porque os seus órgãos mudaram e não se adaptaram a como funcionam uns em relação aos outros a defender.