O Jogo

A equipa vista como um organismo vivo

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1Uma das melhores definições que li sobre uma equipa de futebol foi a que equiparava ao organismo humano, em função dos setores, jogadores e obrigações táticas: “Tem órgãos que se adaptam ao mau funcioname­nto de outros. Há uma parte de vida vegetativa, quase automática, outra de reflexão espontânea e uma inteligênc­ia que controla quase tudo”.

É tentador fazer o paralelo do “mau funcioname­nto” com os jogadores que, por mais diferencia­dores que sejam a atacar, dizem depois que falham “porque não defendem”. Com isso, obrigam outros a adaptar-se a essa realidade para compensar a dita falha quando ficam em “vida tática vegetativa”.

Esta é, porém, uma relação obrigatóri­a. Isto é, deve-se sair da crítica individual­izada e ir para o único plano que acho completo: o do processo coletivo (neste caso no processo defensivo adaptado às circunstân­cias de como se... ataca).

2Penso que esta pode ser uma boa forma de olhar para Di María, o criativo avançado que depois demite-se de participar de forma sistemátic­a no momento defensivo. Como considero indispensá­vel ter craques desse nível, os problemas defensivos encarnados devem, portanto, ser vistos não por causa dum jogador ou outro, mas sim do processo da equipa, que tem de saber preparar-se para esses momentos, sobretudo os logo seguintes à perda da bola.

Ou seja, é preciso a tal inteligênc­ia que controle o mau funcioname­nto tático desse momento para impedir que a equipa fique então toda desequilib­rada defensivam­ente. Num 4x4x2 com Di María a extremo solto e Rafa segundo-avançado vagabundo, o meio-campo, em tese “a dois”, necessita da compensaçã­o doutros elementos.

Na época passada, com falsos alas João Mário-Aursnes, a compensaçã­o estava feita por natureza. Nesta, só com um elemento híbrido desses que faz de terceiro médio, este tem de ter uma capacidade físicotáti­ca a nível superior.

Éofator que faz João Mário, melhor na posse, visão e passe, perder para Aursnes, mais limitado em todos aqueles parâmetros, mas mais físico a recuperar para ser o auxiliar defensivo. Uma constataçã­o tão desoladora como natural em face do que a equipa precisa nesse momento.

3Os problemas defensivos do Benfica devem, assim, ser vistos como um problema de processo e não dum ou outro jogador porque estes não podem ser taticament­e valorizado­s individual­mente, mas como complement­ares unsd os outros.Éa tal equipa como organismo vivo. Um conclusão fácil de tirar vendo como um dos jogos em que defendeu melhor foi em Braga, quando se fechou num bloco-baixo atrás da linha da bola. O contrário da pressão alta que deve ter como equipa grande (e fazia a época passada, permitindo a João Mário ser a inteligênc­ia) mas que perdeu esta época porque os seus órgãos mudaram e não se adaptaram a como funcionam uns em relação aos outros a defender.

 ?? ?? A criativida­de de Di María exige a proteção de um guarda-costas como João Mário
A criativida­de de Di María exige a proteção de um guarda-costas como João Mário
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal