De uma cidade em ruínas ao sucesso europeu
Gurbanov orgulha-se de servir o clube que ostenta um nome importante para os azeris
Desviado para Baku desde 1993 pelos conflitos territoriais entre Azerbaijão e Arménia, Qarabag é clube estimado em todo o país por representar região que só goza desocupação desde o passado 1 janeiro.
PEDRO CADIMA
Afastado do seu berço caucasiano em Aghdam, antiga região de Nagorno-Karabakh, precisamente dissolvida a 1 de janeiro deste ano, após o sucesso de ofensivas azeris sobre os separatistas arménios iniciadas em 2020 que levaram a negociações e formal desfecho recente, o Qarabag é um clube atípico, construindo sucesso longe de casa, na capital Baku, onde granjeia admirável respeito pela sua história desportiva e por remeter para uma luta terrível que se seguiu ao fim do império soviético, fazendo da região um património especial, agora resgatado, de valor incalculável pela natureza patriótica e sofrimento lá instalado durante três décadas. Gurbanov também não se esconde neste assunto. “É um nome com um significado fortíssimo para o nosso povo, foram 30 anos de ocupação. Acabámos de conseguir recuperar o território que compreende a grande região de Karabakh. Foi uma grande vitória, da qual muito me orgulho. Ficar todo este tempo no clube também resulta desta luta, dar visibilidade
ao que queríamos, algo que foi conseguido com 10 presenças nas competições europeias, muitas idas à Liga Europa, uma passagem pela fase de grupos da Champions. Os rivais e a Europa interessam-se pela nossa história a cada jogo importante”, informa, marcando a sua posição, nada permeável a sabores do mercado. “Tenho tido várias ofertas, mas permaneço fiel, pelo valor extra que dou a este trabalho. Aqui, tenho obrigação de dar algo mais de mim e acredito que tomei as decisões certas sempre que renunciei a outros convites”, afirma Gurbanov, analisando o sentimento das pessoas em Baku pela equipa.
“Somos muito apoiados e estamos felizes com eles. Não temos muito público nos jogos da liga, mas quando fazemos qualquer partida na Europa o estádio enche, com adeptos de outras equipas, havendo muito povo oriundo de Karabakh espalhado por Baku e seus arredores. O povo azeri valoriza o nosso nome”, atesta. “Agradeço o apoio, têm sido fundamentais. Ainda é difícil falar de um regresso a Karabakh, o território só foi agora recuperado e tem poucas condições; há cidades, como Aghdam, que ficaram em ruínas. São precisos muitos alicerces muitas construções, novas cidades nascerão. Ainda temos um caminho longo, a guerra deixou um rasto de destruição”, lamenta.
Equipa do Qarabag joga em Baku, mas tem origens em Aghdam, a quase 500 quilómetros, uma cidade em ruínas pelos conflitos em NagornoKarabakh
Guerra territorial histórica entre Arménia e Azerbaijão foi encerrada e a região foi desocupada a 1 de janeiro deste ano, ficando sob total tutela azeri