Uma boina e uma careca
1Para quem ainda há poucos anos andava nos relvados revoltos de terra e lama das divisões mais profundas, encontrar aquelas poças de água no relvado encharcado de Guimarães era como jogar num tapete. Por isso, a cada bola que chegava, pedindo que arrancasse com ela ou a perseguisse, Jota Silva sentia-se na sua “casa de futebol”. Fez de cada jogada um desafio para ganhar o jogo, encarou Otamendi como fosse um desses centrais da distrital, colocou a defesa do Benfica toda atrás dele e arrastou a equipa consigo. Noutro ponto, Cristo González faz em Arouca uma cruzada de bom futebol por toda a frente de ataque. Parece um extremo (arranca e cruza/passa com precisão). Parece um segundo avançado centro (nº9,5 de aparecer desde trás e rematar). É um avançado do futebol moderno, também insensível a tufos que saltam da relva que faz o jogo diferente a cada jogada. Em Guimarães e Arouca, ambos desintegraram as defesas de Benfica e FC Porto, para fazerem tremer a terra (entenda-se, o estado da relva) debaixo dos pés destes dois grandes e roubar-lhes os pontos para, insaciável e insensível, o onze leão do Sporting poder aumentar o primeiro lugar.
2Schmidt e Conceição falharam a abordagem tática aos jogos mas, em cima disso, existiram uma boina e uma careca, isto é, Pacheco e Daniel Sousa, os treinadores que
montaram as estratégias vitorianas e arouquenses.
Se o Vitória manteve (aumentando a rotação dos lances divididos) a sua ideia-base com Händel, um nº6 que está um jogador adulto feito, a tirar a bola da água e fazê-la rolar pelo ar ou em passes mais diretos (porque a resgatava mais à frente), o Arouca marcou logo no primeiro minuto (que belo golo de combinação de equipa) e optou por, ao contrário que fizera com o Benfica, baixar mais o bloco (médio-baixo em vez da defesa tão subida) e não dar as costas/ profundidade da sua linha defensiva, obrigando assim os extremos do 4x3x3 portista a terem que resolver em espaços mais curtos e sem poderem embalar como gostam.
Conseguido esse encurtamento de espaços (fazer “campo pequeno” a defender) explorou depois bem o momento do contra-ataque com... ataque à profundidade (“campo grande” a atacar) nas costas do bloco portista subido (e desequilibrado, atrás do resultado). David Simão viu o horizonte e fez o passe fatal para Jason caminhar e rematar nesse latifúndio azul de desequilíbrio defensivo.
Schmidt e Conceição falharam a abordagem tática aos jogos perante uma boina e uma careca, isto é, Álvaro Pacheco e Daniel Sousa
3Ao mesmo tempo, perdendo Varela, o FC Porto perdia o farol e âncora do meio-campo que, sem ele, desintegrou-se taticamente (no controlo de saída e referência do processo defensivo). Uma relação causa-efeito, saída do jogador-desintegração da equipa, direta e intransmissível.