O Jogo

“SÓ UM CLUBE GRANDE PODIA PAGAR TANTO”

O Gil Vicente abriu-lhe as portas na Europa, mas foi no Azerbaijão que encontrou espaço para brilhar, no Qarabag e também na seleção. Dinheiro foi a razão da mudança

- PEDRO CADIMA

Aos 34 anos, o médio é uma das grandes referência­s do do adversário do Braga, clube que diz admirar desde os tempos da passagem pelo Minho, onde jogou dois anos no Gil Vicente.

Histórico absoluto no Azerbaijão, Richard, de 34 anos, é um dos homens que ajuda a definir hoje o que é o Qarabag, tendo visto a sua folha de serviços, de 259 jogos e 43 golos pela equipa, recompensa­da com trajeto na seleção, pela qual soma 31 internacio­nalizações. A estreia na Europa foi pela porta do Gil Vicente, entre 2010 e 2012, fez 75 jogos e marcou seis golos. Ajudou no regresso dos galos à I Liga, vindo do Santo André, mas foi em Baku que construiu o seu império de fama e prestígio. Com inúmeros títulos, o brasileiro-azeri tem aura de lenda, tal como seu treinador Gurban Gurbanov: oito campeonato­s para cada um.

Tal como Juninho Vieira, Richard sabe o que é defrontar o Braga, fê-lo em 2011/12, e é com bons olhos que o médioofens­ivo encara esta chamada a duelo com um conjunto português que tem assinado resultados surpreende­ntes, inclusive na Europa. “Desde que fui para Portugal, sempre simpatizei com o Braga; tinham uma superequip­a, com Alan, Lima, Salino, Hugo Viana, chegaram a uma final da Liga Europa, após afastarem o Benfica. É um clube semelhante ao Qarabag, mas com folha salarial acima da nossa. O Braga é estável, contrata bem, acerta em jogadores para a sua filosofia e que fazem a diferença. Lançam muitos treinadore­s na alta roda, agora é o Artur Jorge; vejo um sistema de jogo qualificad­o e há jogadores muito bons”, observa, decifrando ameaças. “Posso falar do Djaló, Ricardo Horta, Fonte, Matheus, Banza e, atenção, gosto muito do Vítor Carvalho,

que tem um potencial grande, conheço-o de o ver chegar ao Gil Vicente. Há ainda os jovens que chegaram nos últimos anos. Auguro bons espetáculo­s, espero que possamos estar no nosso melhor para conseguir a qualificaç­ão”, sublinha Richard.

Naturaliza­ção em 2017

Sobre a vida no país que o acolheu há mais de dez anos, com breves interrupçõ­es para jogar no Cazaquistã­o e Emirados Árabes Unidos, o brasileiro

de São Paulo é elucidativ­o sobre a relação construída. “Tenho um sentimento de felicidade por um trajeto glorioso de muitas conquistas, desde o primeiro instante. Se o Qarabag tem 10 campeonato­s ganhos, eu tenho oito, nove até, porque voltei e fui campeão, jogando metade da época. Tenho sido importante, só posso ter muita gratidão e destacar também o treinador Gurbanov pela confiança. As coisas foram acontecend­o”, relata, detalhando o apelo do país para que Richard acentuasse o seu papel no futebol azeri. “Foi em 2017 que tive a oportunida­de de me naturaliza­r, a vida na seleção foi algo muito abençoado. Agradeço à Federação um trajeto que muito me honra, sempre com pés assentes na terra”, declara. “Foi um pouco estranho sair de Portugal e ir parar no Azerbaijão. Resultou até de uma reviravolt­a negocial, pois eu tinha tudo certo com o Légia

de Varsóvia e no dia seguinte acordei e disseram-me que, afinal, jogaria no Qarabag. Chegaram com oferta melhor ao Santo André, que me havia emprestado ao Gil Vicente. Financeira­mente, foi algo muito bom para mim, mudei pelo dinheiro, pois só um clube grande em Portugal poderia pagar-me tanto. Mas tornou-se uma paixão inexplicáv­el”, sublinha Richard. “Digo isso pelo clube, pessoas,

pelo povo azeri, pelo acolhiment­o. Sabia do meu potencial, e se tivesse ido para Polónia, sei que poderia ter chegado mais longe, a clubes maiores da Europa. Mas este caminho foi traçado assim e cheguei ao lugar certo na hora certa. Não estranhei tanto assim a cultura, não apanhei uma sociedade fechada no islamismo, deparei-me com gente acolhedora e um país maravilhos­o”, argumenta.

“Perigos? Djaló, Ricardo Horta, Fonte, Matheus, Banza e, atenção, gosto muito do Vítor Carvalho”

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Richard nasceu em São Paulo, mas tem nacionalid­ade azeri desde 2017 e já foi internacio­nal 31 vezes

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