César Boaventura é um caso muito sério
Há casinhos e casos no nosso futebol. O de Boaventura é um caso sério, até porque a sanção acessória aplicada só o impede de estar afastado dos negócios durante dois anos, quando deveria ficar para sempre.
Opermanente clima de suspeição é um dos problemas do futebol português. Esta turbulência insustentável, com danos potenciais de credibilidade junto de adeptos e investidores, tem origem muitas vezes na desonestidade dos próprios clubes, por nem sequer perceberem que quando atiram a areia da arbitragem para os olhos da opinião pública com vista à desresponsabilização do insucesso estão também a lançar lama para o próprio futebol. A estratégia está tão desgastada que, felizmente, são já muitos os que não lhe atribuem importância. Porém, quando somos confrontados com casos como o de César Boaventura, ontem condenado a três anos e quatro meses de cadeia por tentar aliciar jogadores do Rio Ave na antecâmara de um jogo com o Benfica, percebemos que há, ou pelo menos houve, situações graves e sérias que a todos nos devem deixar muito preocupados. Mais ainda porque ficamos sempre com a sensação de que a culpa, não morrendo solteira, será enterrada na pena suspensa de um agente de jogadores – depois de transitar em julgado, após os recursos previstos na lei –, porque a Justiça não vê qualquer ligação entre Boaventura e o Benfica, como não viu com Paulo Gonçalves, embora confirmando que o primeiro era próximo de Luís Filipe Vieira, ex-presidente das águias (sobre o segundo, nem é necessário confirmar). A conclusão não podia ser mais preocupante: qualquer criminoso pode tentar aliciar jogadores à vontade, sem consequências de maior, a não ser a da vergonha pública, que cidadãos como César Boaventura, definitivamente, não têm.