As equipas de estrutura e as de conjuntura
1 Não existe, claro, comparação entre esta equipa e outras do passado como o FC Porto já teve, mas mesmo descontando essa implacável “questão qualitativa”, quando ouço Conceição no fim do jogo de Arouca num discurso tão cinzento sobre jogadores, equipa e até ele próprio, sinto que o problema já está além de tudo isso tal a forma como falou. A conclusão em palavras da exibição deprimente que todos (e sobretudo ele) viram e sentiram.
Já por aqui referi a estranheza que tenho do que é hoje o processo de scout/prospeção e contratações do FC Porto, outra vez em comparação com o passado. Sei que as coisas (“entornos de negócio”) mudam rápido, mas é impossível o processo ser o mesmo tais os desvios conceptuais de avaliação e escolha (e aposta consequente) em todo o percurso. É uma questão estrutural que implica que a construção das equipas esteja a tornar-se numa questão/ produto... conjuntural (época após época). O inverso do que deveria ser. E já foi.
2 Conceição tem sido, assim, um treinador supraestrutura (pelo poder portador de ADN-Porto num ciclo em que este perde bases) obrigado a fazer equipas competitivas de conjuntura. Umas épocas correm, naturalmente, melhor do que outras. Nem sempre é possível potenciar (ou inventar) jogadores para os níveis que o onze portista sempre exige. O último grande jogador de deteção de valor de mercado em antecipação que o FC Porto teve foi Luis Díaz. Esta época, conseguiu outro que, de perfil diferente, já no Boca via-se com potencial para seguir essa relação rendimento desportivo/ financeiro: Varela. Quando o vi a sair ainda cedo na primeira parte em Arouca, pressenti rapidamente como o sistema ia perder consistência no seu centro de operações. Chegava, em concreto, o momento da tal verdade qualitativa: não importa como se corre (e a equipa corre muito), importa como se joga (e a equipa, em muitos momentos, joga pouco).
3 Varela não é jogador que se esfola a correr porque está sempre no sítio certo em termos de equilíbrios, sobretudo o defensivo, que é onde este FC Porto sofre mais em termos táticos coletivos (apesar de se falar na falta de eficácia ofensiva que vejo mais como individual). No meio destas duas equações, coletivo-individual, ficará a questão do último passe. É verdade que a linha defensiva está também individualmente distante do valor de outros tempos, mas o que refiro aqui é a capacidade de todo o onze para assim cumprir esse processo defensivo com eficácia (como desde quem na frente não encurta num passe longo quando a equipa subida arrisca perde controlo da profundidade) Por tudo isto, em síntese, (porque o “case study” tático do atual FC Porto exigia análise mais profunda) entender o olhar cinzento de Conceição (ilusoriamente conformado) na depressão de Arouca. O Arsenal terá outra história pela teoria dos estímulos.