“O doping é mais ou menos comum”
Todos os atletas ouvidos no processo Prova Limpa, que tem antiga W52-FC Porto no banco dos réus, admitiram uso de substâncias dopantes
Mário Jorge Branco, diretor desportivo com larga experiência internacional, está de saída do Fenerbahçe e na Turquia apontam o motivo da decisão com dois convites que terá recebido. Segundo a imprensa de Istambul, o gestor tem em mãos propostas do FC Porto e do Benfica para assumir a pasta do futebol. Mário Branco, de 48 anos, foi diretor desportivo de clubes como Estoril, Famalicão, Hajduk Split e PAOK, tendo assumido funções no Fenerbahçe, com Jorge Jesus, em junho de 2022.
Ricardo Mestre, vencedor da Volta em 2011, foi um dos que admitiram recurso à dopagem e até o seu uso generalizado no pelotão. Quarto de Nuno Ribeiro, antigo diretor, era o local onde estavam os produtos.
Depois de Rui Vinhas e João Rodrigues, vencedores da Volta a Portugal em 2016 e 2019, respetivamente, mas também o amador Marco Paulo Vilela Magalhães, primo do corredor Ricardo Vilela, e a técnica farmacêutica e cunhada de Samuel Caldeira, Carina Lourenço, ontem foi a vez de Ricardo Mestre, vencedor da Grandíssima em 2011, Caldeira, Daniel Mestre e Vilela serem ouvidos no pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, no segundo dia do julgamento da W52-FC Porto. São 26 arguidos que respondem pelo crime de tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas só 14 pelodeadministraçãodesubstância e métodos proibidos.
“Assumo os factos de que souacusado”,afirmouSamuel Caldeira, tendo explicado que começara a dopar-se entre o final de 2020 e 2021, por “sentir quehaviaadversáriossuperiores”. “Em competição, [Nuno Ribeiro] mandava uma mensagem para passar no quarto. Chegava lá, pegava e fazia no quarto”, contou. Os ciclistas tinham de ir controlando os valores e usavam sacos para transfusão de sangue disponíveis no autocarro da equipa, enquanto as substâncias eram conseguidas ou por meios próprios ou no quarto de Nuno Ribeiro,alémdeumoutro“quarto fantasma”, conforme identificou Ricardo Mestre.
“O doping é um sistema regular no ciclismo, onde nos adaptamos para conseguirmos atingir o nível que se pretende para chegar ao topo”, confessou também Mestre, tendo o vencedor da Volta’2011 reconhecido os factos, dizendo ter começado a doparse “mais assiduamente a par
“[Nuno Ribeiro] mandava uma mensagem para passar no quarto. Chegava lá, pegava e fazia no quarto” Samuel Caldeira Ciclista
tir de 2020”. “Recebia mensagem para ir ao quarto, com o número do quarto”, disse o ciclista sobre a forma como as coisas se passavam em competição, revelando que era Nuno Ribeiro quem lhe comunicava a disponibilidade. “O doping é mais ou menos comum, principalmente no pelotão português”, reconheceu.
Daniel Mestre assumiu também o uso de doping “no final de2021,iníciosde2022”,explicando que “tinha receio de dizer que não tinha feito [a reintrodução de sangue], porque podia não ser convocado”. “Eu próprio fazia e sentia medo de fazer, tirar o sangue e colocar.
O risco que corria (...) Não sentia grande rendimento desportivo, para ser sincero. Para a saúde, era das coisas mais prejudiciais que havia”, atirou.
Ricardo Viela também admitiu o uso de substâncias proibidas, dizendo que sobre isso “trocava ideias” com Rui Vinhas e o diretor desportivo. Daniel Freitas, que fez parte do elenco da W52 FC Porto entre 2016 e 2018 e, no período deinvestigação,competiapela RP-Boavista, foi o último dos ciclistas a prestar declarações, confessando também o uso de doping “no final de 2021, inícios de 2022”, além da reintrodução de sangue.
“Tinha receio de dizer que não tinha feito porque podia não ser convocado”
Daniel Mestre Ciclista