Más e boas venturas
1Não conheço nem sequer alguma vez me cruzei com César Boaventura. Tudo o que sei é o que sobre ele vai aparecendo há anos no espaço público – e não é de molde a poder considerá-lo um exemplo de virtudes. Um dos maiores erros de Luís Filipe Vieira foi dar-se com gente desta, muito pouco recomendável, que nada de bom poderia alguma vez trazer à imagem do clube.
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Não vou pegar na incoerência e nas contradições dos testemunhos que suportaram a condenação de Boaventura – isso será certamente ajuizado em sede de recurso. Interessa-me por agora lembrar – e relevar – que as inúmeras escutas feitas a Luís Filipe Vieira ou os milhões de emails roubados ao Benfica jamais provaram que o clube comprou um campeonato, um jogo, um golo sequer. (Algum outro clube foi sujeito a tamanho escrutínio?) Mais: nem através da truncagem de emails conseguiram construir uma narrativa, ou uma ficção, que levasse a concluir que o Benfica tinha adulterado a verdade desportiva.
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Há por aí muitos anjinhos que não entendem como é que a SAD do Benfica não foi acusada no processo de Boaventura. Pois eu tenho muito mais dificuldade em entender como é que perante escutas do Apito Dourado como as que ouvimos ao presidente da SAD do FC Porto a mesma não foi acusada. Por outro lado, todos conhecemos a história de Paulo Pereira Cristóvão no caso Cardinal – e segue a pergunta: não escapou a SAD leonina a qualquer acusação nesse processo? O clube de Alvalade esqueceu-se, ou convenientemente esqueceu-se, que foi seu o único presidente a reconhecer publicamente a compra de árbitros? Ou que Paulo Pereira Cristóvão, mais uma vez no exercício do cargo de vicepresidente do clube, foi condenado num outro processo por corrupção ativa pela obtenção de dados pessoais, patrimoniais, bancários e fiscais de 196 árbitros de futebol através de “toupeiras” que tinha nas finanças? Para que queria todos aqueles dados? Foi a Sporting SAD acusada?
4O Sporting não conseguiu – e jamais conseguirá – engolir a perda do campeonato de 2015/16 para o Benfica. Acontece que com a mesma competência com que colocou a equipa a jogar bom futebol, Jorge Jesus, de ego exacerbado como nunca, foi, com as ofensas dirigidas a Rui Vitória, o responsável pela união de toda a família benfiquista – estrutura, equipa técnica, jogadores e adeptos.
As inúmeras escutas a Luís Filipe Vieira ou os milhões de emails roubados ao Benfica jamais provaram que o clube comprou um campeonato, um jogo, um golo sequer
E fê-lo a um ponto tal que nos catapultou para a conquista de um título a dada altura considerado impossível. Acontece, ainda, que o que resulta do processo de Boaventura é que os jogadores foram aliciados mas não aceitaram esse aliciamento – onde está, então, o resultado adulterado que contribuiu para o título do Benfica?
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É muito bom poder fechar esta crónica com um apontamento tão positivo: Diogo Ribeiro, duplo campeão mundial com apenas com 19 anos, é já o maior nadador português de sempre. Até onde poderá chegar? Venham os Jogos Olímpicos!