De “e pluribus unum” a “unus inter pares”
Roger Schmidt tem o direito a ficar calado até porque, por esta altura, já está cansado de saber que tudo o que disser pode e será usado contra ele no tribunal da opinião pública. Claro que quem cala consente, desde logo a especulação em torno do respetivo silêncio e mais ainda quando a justificação é tão esfarrapada como o clássico “isto não é o que estás a pensar!” de quem é apanhado em flagrante infidelidade. Sim, é verdade que Roger Schmidt já tinha falado na antevisão e no final do jogo com o Toulouse, até porque nestas coisas a UEFA não brinca aos estados de espírito, mas o silêncio antes do regresso ao campeonato, onde os encarnados têm de reagir a um empate sofrido em Guimarães, não deixa de soar estranho, desde logo por desvalorizar a competição que o Benfica, como todos os candidatos ao título, tem como prioridade na lista de objetivos. Não é por acaso que a UEFA obriga os treinadores a falar antes e depois de cada jogo. Aliás, obriga a que seja o treinador e um jogador, que ainda têm de se disponibilizar para um pequena entrevista com o detentor dos direitos televisivos. O futebol é produto pelo qual os operadores televisivos e os patrocinadores pagam caro e que tem de ser promovido pelos protagonistas. Mas isso é na UEFA. Por cá, as regras são mais flexíveis e só obrigam os técnicos a marcar presença nas flashinterviews. É uma pena. Se quisermos saber, por exemplo, o que Roger Schmidt pensa sobre o Vizela, teremos de ver o que disse no recente jogo dos quartos de final da Taça onde, nem de propósito, Arthur Cabral foi decisivo com um golo e uma assistência. Uma pista relevante para supor que não passará pela cabeça do treinador alemão repetir a fórmula usada em Guimarães que deixou o brasileiro no banco de início. Claro que supor é tudo o que poderemos fazer, pelo menos até à hora do jogo, porque Roger Schmidt resolveu não responder a perguntas. De repente, em vez daquela lufada de ar fresco que prometia trazer, fica a sensação
Em vez daquela lufada de ar fresco que prometia trazer, fica a sensação de que o alemão está cada vez mais integrado no contexto rarefeito do futebol português
de que o alemão está cada vez mais integrado no contexto rarefeito do futebol português. Que é menos “e pluribus unum” e mais “unus inter pares”. Apenas um entre iguais.