O Jogo

De “e pluribus unum” a “unus inter pares”

- Jorge Maia

Roger Schmidt tem o direito a ficar calado até porque, por esta altura, já está cansado de saber que tudo o que disser pode e será usado contra ele no tribunal da opinião pública. Claro que quem cala consente, desde logo a especulaçã­o em torno do respetivo silêncio e mais ainda quando a justificaç­ão é tão esfarrapad­a como o clássico “isto não é o que estás a pensar!” de quem é apanhado em flagrante infidelida­de. Sim, é verdade que Roger Schmidt já tinha falado na antevisão e no final do jogo com o Toulouse, até porque nestas coisas a UEFA não brinca aos estados de espírito, mas o silêncio antes do regresso ao campeonato, onde os encarnados têm de reagir a um empate sofrido em Guimarães, não deixa de soar estranho, desde logo por desvaloriz­ar a competição que o Benfica, como todos os candidatos ao título, tem como prioridade na lista de objetivos. Não é por acaso que a UEFA obriga os treinadore­s a falar antes e depois de cada jogo. Aliás, obriga a que seja o treinador e um jogador, que ainda têm de se disponibil­izar para um pequena entrevista com o detentor dos direitos televisivo­s. O futebol é produto pelo qual os operadores televisivo­s e os patrocinad­ores pagam caro e que tem de ser promovido pelos protagonis­tas. Mas isso é na UEFA. Por cá, as regras são mais flexíveis e só obrigam os técnicos a marcar presença nas flashinter­views. É uma pena. Se quisermos saber, por exemplo, o que Roger Schmidt pensa sobre o Vizela, teremos de ver o que disse no recente jogo dos quartos de final da Taça onde, nem de propósito, Arthur Cabral foi decisivo com um golo e uma assistênci­a. Uma pista relevante para supor que não passará pela cabeça do treinador alemão repetir a fórmula usada em Guimarães que deixou o brasileiro no banco de início. Claro que supor é tudo o que poderemos fazer, pelo menos até à hora do jogo, porque Roger Schmidt resolveu não responder a perguntas. De repente, em vez daquela lufada de ar fresco que prometia trazer, fica a sensação

Em vez daquela lufada de ar fresco que prometia trazer, fica a sensação de que o alemão está cada vez mais integrado no contexto rarefeito do futebol português

de que o alemão está cada vez mais integrado no contexto rarefeito do futebol português. Que é menos “e pluribus unum” e mais “unus inter pares”. Apenas um entre iguais.

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Cara e coroa

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