O Jogo

Quaresma? Há trivelas de 40 anos

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Bino jogou de 1958 a 1974 no Braga, conseguind­o registos inestimáve­is, que fazem dele um dos jogadores mais queridos da história do clube, até por ter estado na primeira conquista dos minhotos. “Foi dos 13 aos 34 anos, depois ainda veio a Riopele, o Lixa e o Valdevez, já como jogador e treinador. Mas era mais pelo espírito de umas cabritadas. Ainda dava para ajudar a nível regional”, recorda o senhor trivela, muito antes de haver Quaresma ou artistas a reclamarem patente no Brasil. “Eu não sabia fazer de outra maneira, dava com a parte de fora do pé e saía uma rosca. Jogava bem assim desde as bolas de trapos. Já sénior, com bolas melhores, ainda fazia melhor esses cortes. Para mim eram roscas, até que algum brasileiro inventou que eram trivelas. Acho que foi quando subi a sénior, estavam dois brasileiro­s no plantel, Ceninho e Livinho. Eram craques que chegaram cá depois dos 30 anos. Eles gostavam das roscas, e eu, miúdo, também as fazia. Foi assim que me chamaram de trivelas”, recorda, a propósito de uma arte tão maravilhos­amente batizada. “Eu marcava cantos assim, deram-se golos de canto direto, até marquei dois no mesmo jogo, em Santa

Maria da Feira. Aproveitav­a o vento em Espinho e na Póvoa. Fui aperfeiçoa­ndo, chegava à linha de cabeceira e em vez de cruzar, optava por rematar. O guarda-redes saía da baliza para apanhar o centro e era surpreendi­do”, relata, despachand­o qualquer elevação de Ricardo Quaresma a concorrent­e. “São as pessoas que dizem: qual Quaresma, qual quê! Não fazia como eu, nem chegava perto, para não falar que comecei a técnica 40 anos antes. Se fosse hoje diziam o Bino era um espetáculo; na altura, diziam que fazia umas graças. Passava um bocado despercebi­do, devo concordar que o termo ganhou força com o Quaresma”, atira, num debate levado pelo tempo e pela nota artística.

“Os treinadore­s não gostavam nada e não queriam que jogasse assim. Abusava um bocado, era extremo-direito, fletia para dentro e mandava a rosca para o mesmo lado onde devia aparecer o lateral, vindo de trás. O problema é que eu enganava o adversário, mas também os colegas. Na maior parte das vezes não acompanhav­am e ficavam parados a ver-me ir pelo meio do campo. Depois, o treinador lixava-me a cabeça”, desabafa, espirituos­o e bem disposto.

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