Uma Taça que dobrou S. João
FEITO Bino recorda que foi seu o passe para Perrichon quando o Braga fez história, mais complexa do que hoje
Antigo extremo dos guerreiros guarda com carinho cada pedaço da festa que se seguiu à vitória no após a final com V. Setúbal. Aplaude os êxitos atuais, mas desconfia do título.
●●● Qualquer conversa que desemboque na proeza da Taça de Portugal levantada em1965/66 remete para um bálsamo precioso que é conservado na memória coletiva de gerações mais envelhecidas, e uma conquista transmitida com orgulho quando as desigualdades do Braga para os clubes de nomeada eram gritantes. Nem se chegavaàpalavrades igualdade, pois era uma escala de forças de diferentes planetas. “Foi igual a viver o São João. Braga teve dois em 1966. A nossa chegada foi um espetáculo, ninguém imaginava tal coisa. Era um clube modesto, de poucos associados, 5000 tinham visto a final da Taça, no Estádio Nacional. Chegámos a Braga e vimos a avenida repleta, tivemos quilómetros de escolta popular. Foi um problema para a camioneta que nos trouxe do Porto entrar na cidade, só me lembro de bandeiras, cobertores, tudo pendurado nas janelas”, recorda, assaltando as emoções das quatro linhas dessa saborosa vitória dos guerreiros sobre o V. Setúbal, que goleara o Braga pouco tempo antes para o Campeonato, por 8-1. Perrichon vingou essa humilhação. “O passe para o golo foi meu e a malta diz que foi uma trivela, que entrei por dentro e mandei a rosca pelo meio de dois rivais do Vitória. A bola bate na relva, tabela na perna de um dos defesas, escapa-se e o Perrichon isola-se para marcar. Ele fartava-se de fazer golos, era extraordinário, com um pique tremendo, e eu servia-o em muitos. Dizia-lhe sempre , ‘tu marcas mas quem te dá a papa sou eu!’”, conta, invadido novamente de humor. E congratula-se pelas conquistas, uma bem recente. “Agora o Braga já se habituou a festejar, é tudo bom e diferente. Virou um clube apetecível, já é meio grande, isto, atualmente, é uma maravilha”, exulta, mas trava quando ot em aéo título. “Eu digo ao Salvador, de caras: o Braga nunca será campeão. Já lhe disse e repeti. Só se morressem e acabassem todos. Se o Braga chega lá perto, armam se confusões e zaragatas. No único ano que estiveram realmente perto foi o que se viu, aconteceu aquilo no túnel da Luz, os do Braga foram insultados do piorio e acabaram por ser os castigados. Agora dá nas vistas, e as equipas vão sendo prejudicadas ainda com distância, para não chegarem ao momento decisivo. O Braga também acusa a pressão, e na hora da verdade atrasa-se. Milagre foi a nossa vitória em 1966, além da diferença de valores e de superequipas, como eram Benfica, Sporting e V. Setúbal; eram roubalheiras impressionantes. O Benfica era logo mais favorecido, como se já não bastasse ter uma seleção”, recua.