“CADA JOGO É COMO UMA FINAL”
Mustapha Sangaré é uma das revelações dos poveiros, que lutam pelo regresso às provas profissionais
A força dos adeptos tem impressionado o ponta-delança francês. O ténis foi o primeiro desporto que praticou, iniciando-se tarde, aos 16 anos, no futebol. Primeiro contrato surgiu em 2020.
ANDRÉ VELOSO GOMES
Mustapha Sangaré contabiliza três golos e três assistências em 18 jogos com a camisola do Varzim e já é adorado pelos adeptos poveiros, que o batizaram de Batman e Osimhen. Aos 25 anos, este “adepto” do Marselha e fã do costa-marfinense Didier Drogba, sonha ser futuramente “um ídolo” do emblema poveiro. Para lá da estatura (1, 96 metros) e imponência física, o francês impressiona pela velocidade em campo e pelo espírito combativo.
Quais as suas origens?
—Somos uma família de emigrantes. Eu nasci em Paris, mas meu o pai é do Mali e a minha mãe do Senegal. Tive a oportunidade de crescer em França, morando nos arredores de Paris.
Como aparece o futebol na sua vida?
—Comecei muito tarde porque antes jogava ténis, modalidade que adorava, e apenas me iniciei no futebol aos 16 anos num clube de bairro, em Paris. Fui jogando de forma amadora, mas fui evoluindo e acabei por assinar o primeiro contrato com o Racing, em 2020. Destaqueime em vários jogos ao marcar golos e, na altura da Covid-19, deixei de ser amador e passei a profissional, assinando, entretanto, pelo Amiens, um clube já com uma boa dimensão. Joguei cerca de dois meses no Amiens, mas depois tive uma lesão nas costas e estive mais de um ano parado. Na época passada fui emprestado ao Borgo, da quinta divisão, e até me destaquei, mas o contrato acabou e tive que encontrar outra solução para a minha carreira.
Como surge a possibilidade de assinar pelo Varzim?
—Tive algumas solicitações em França e muitas de outros países, principalmente da Bélgica e de Espanha, mas uma pessoa, que entretanto se tornou meu agente, falou-me da possibilidade de vir para o Varzim. Apresentou-me o clube, estudei o perfil e assinei por dois anos. Estou muito satisfeito com a decisão, escolhi o clube certo.
E que clube encontrou?
—Conhecia mais ou menos o futebol português, mas não a maioria dos clubes. Fui vendo alguma coisa do Varzim e impressionou-me a cultura dos adeptos, a forma apaixonada como defendem o clube. Ao contrário do que aconteceu no Amiens, quando cheguei senti logo que na Póvoa de Varzim se respira futebol. Por exemplo, os adeptos andam na rua com a camisola do clube, enquanto em França isso acontece mais em clubes como o Marselha ou o Lens. A cidade é linda, com uma grande paisagem e o mar. Apesar de ser uma cultura diferente, receberamme muito bem, as pessoas foram muito acolhedoras comigo.
E como tem sido a relação com os adeptos do Varzim?
—Com estes adeptos não podemos brincar, somos obrigados a dar 300 por cento. Com eles não tens hipótese se facilitares. No primeiro jogo tive um lance em que não fui pressionar um defesa e senti logo que não gostaram. Tenho a noção que gostam muito de mim porque também já fui adepto; quando vês um jogador a dar tudo, só tens de apoiar. Estou muito feliz no Varzim. Como tenho usado uma máscara para proteger o nariz chamam-me Batman e também me chamam Osimhen [como Victor Osimhen, do Nápoles]. Sente que pode vir a
tornar-te um ídolo no Varzim?
—Se chegar a esse nível é sinal que o clube subiu de divisão, que correu tudo bem e que toda a gente está contente. Penso que isso será possível. Seria incrível para mim!
Depois de o Varzim ter sentido muitas dificuldades para chegar à fase de subida, como encara o resto da época?
—A união do grupo foi determinante para conseguirmos ganhar nas três últimas jornadas e carimbar o apuramento, sempre com um apoio incrível dos adeptos. A nossa abordagem a cada jogo é como se fosse o último das
“Com estes adeptos não podemos brincar e somos obrigados a dar 300 por cento. Com eles não tens hipótese se facilitares”
“A maneira como entrámos em campo nos últimos cinco jogos diz-me que poderemos ganhar muitas vezes”
nossas vidas. A maneira como entrámos em campo nas últimas cinco jornadas diz-me que poderemos ganhar muitas vezes. Mesmo na casa dos adversários, jogamos como se de uma final se tratasse.
Mustapha Sangaré Jogador do Varzim
Qual a mensagem que pode deixar aos adeptos do Varzim?
—Peço que nos continuem a apoiar incondicionalmente em todos os jogos porque não vamos facilitar e será até ao fim. Com o apoio deles nas bancadas, em casa ou fora, somos muito mais fortes e sentimos que nunca podemos estar relaxados em campo.