O Jogo

“Qarabag representa país”

Guarda-redes português está no Zira FK, é o menos batido do Azerbaijão e venceu fora o adversário do Braga. A O JOGO explica o que leva os rivais a puxarem para o mesmo lado

- MANUEL CASACA

Apesar de ter chegado ao Azerbaijão sem conhecer nada do país e do clube, ficou agradavelm­ente surpreendi­do com tudo o que tem visto. Hoje vai estar no estádio, mas sem torcer por ninguém.

Guarda-redes menos batido na liga do Azerbaijão, com 13 golos sofridos em 23 jornadas, Tiago Silva tem estado em destaque ao serviço do Zira FK e conhece bem o Qarabag.

Como surgiu a oportunida­de de ir para o Azerbaijão?

—Na época passada, no Trofense, descemos de divisão. Estava com alguns problemas pessoais e em termos desportivo­s fui alternando o banco com a titularida­de. Não tive uma época regular. Todas as propostas que tive de clubes portuguese­s não serviam para me valorizar. Assim que apareceu a oportunida­de de vir para o Azerbaijão, aceitei de imediato, um bocado de forma inconscien­te, porque não conhecia nada do país e do clube, mas vi que era uma oportunida­de e um escape para os problemas que tinha. Decidi arriscar. Como costuma dizerse, cheguei aqui apenas com a mochila às costas. Aluguei casa e vivo sozinho. Não tenho portuguese­s na equipa, apenas brasileiro­s. A adaptação não foi fácil, sobretudo no primeiro mês, porque comecei a pré-época na Turquia, onde fizemos o estágio, e aí era apenas comer, treinar e dormir. Agora sinto-me completame­nte integrado.

Vivem e jogam em Zira?

—Não. A cidade de Zira fica a cerca de 30 minutos de Baku, mas quase todas as equipas estão na capital. É a forma que arranjaram para cativar os jogadores a vir, porque é uma cidade muito bonita. É um mini Dubai. As zonas fora de Baku já não são tão atrativas.

Onde treinam?

—Num complexo semelhante ao Jamor, onde treinam todas as equipas. Muitas vezes treinamos ao lado do adversário que vamos encontrar no fim de semana. Há uma boa relação entre os clubes. Neste momento, todos os clubes e todas as pessoas estão a apoiar o Qarabag e a torcer para que passe à próxima fase.

Ficam em Baku por uma questão de segurança?

—Já não há guerra, apesar de o tratado de paz ainda não ter sido assinado, mas está tudo tranquilo. As pessoas gostam do país e essa cultura é passada muito cedo. Há sempre uma bandeira do país nas ruas, nas janelas, nos edifícios. Há um sentimento patriótico e o Qarabag não está apenas a representa­r o clube, mas todo um país. O estádio vai estar lotado, e certamente não são todos adeptos do Qarabag. Muitas dessas pessoas nem vão ao estádio regularmen­te.

Sente-se em segurança?

—Semdúvida.Desdequech­eguei, passei essa informação aos meus familiares e amigos,

porque o país é muito seguro. Seja a que horas for, podemos andar em segurança na rua com um tablet ou um telemóvel de valor, até porque há polícias de 100 em 100 metros. É um país muito seguro.

O que tem o Braga de fazer para ainda passar a eliminatór­ia?

—O grande problema é que o Braga tem de ir atrás de um resultado positivo e tem de ganhar, pelo menos, por dois golos. O Qarabag é uma equipa ofensiva, tem uma transição forte, com jogadores na frente que fazem a diferença, e muitos deles já estão a ser associados a grandes clubes europeus. É uma equipa que marca sempre golos. O Braga percebeu na primeira não que o Qarabag não é uma equipa fácil. Percebo que os portuguese­s pensem que o futebol do Azerbaijão não é tão forte, mas é uma visão errada, porque quase todas as equipas têm jogadores que já atuaram na Liga dos Campeões ou na Liga Europa. Há muitos joga

dores experiente­s. O Braga já percebeu que, caso não consiga travar as transições do Qarabag, vai ter muitas dificuldad­es.

Quem é favorito?

—Em termos individuai­s, se olharmos para o valor de mercado dos jogadores das duas equipas, não há comparação, e até por isso o Braga seria favorito, mas, neste momento,

já não é. No entanto, o Braga tem jogadores que podem fazer a diferença a qualquer momento e podem conseguir a reviravolt­a no marcador.

Vai ver o jogo no estádio?

—Vou estar na bancada, mas não vou apoiar nenhuma equipa. A única equipa que apoio é o Zira FK. Quero que se seja um grande jogo e que ganhe o melhor.

“Baku é um mini Dubai (...) Foi a forma que arranjaram para cativar os jogadores a vir”

“Nas ruas, há polícias de 100 em 100 metros. É um país muito seguro” Tiago Silva Guarda-redes do Zira FK

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Tiago Silva trocou a Trofa por Baku, um mini Dubai, segundo conta a O JOGO

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