BILHETE BARATO SEM DIREITO A MENU COMPLETO
DESPERDÍCIO A eliminatória nunca esteve em perigo e o Sporting habituou-se à ideia de que ia fazer o 2-0. Não o conseguiu e sofreu um empate que não fere ninguém
O ritmo cruzeiro apareceu e as chances sucederam-se. Gyokeres marcou um, encaminhando os oitavos de final, falhando depois um penálti. A saída de Hjulmand fez perder força e o Young Boys capitalizou.
Pela vitória por 3-1 na Suíça e, acima de tudo, pela facilidade com que o ataque do Sporting, que nem faca quente, abriu buracos no queijo helvético, sabia-se que a chegada dos leões aos oitavos de final da Liga Europa era provável. Uma questão de tempo. O empate ontem em Alvalade (1-1) não belisca em nada a supremacia dos verdes e brancos, porque não houve descompressão acentuada. Em muitos momentos, este navio manteve a tendência de ritmo cruzeiro e quando, aos 13’, Gyokeres esmagou a esperança do adversário achou-se que o passeio em alto mar daria para beber uns cocktails a meio do caminho. Confiante, o sueco foi o porto seguro para a equipa depositar a velocidade e procurar, sem tremores, o 2-0. Um desatino, uma tormenta na maré para quem tinha de atar os nós à proa para não ser levado no vendaval. Edwards teve o 2-0 no pé esquerdo, mas pisou a desventura antes do intervalo, já com a baliza vazia. O lance capital que poderia ter catapultado a equipa para a goleada e para o ataque aos 100 tentos.
Não foi assim, mas o Sporting manteve a pressão alta e, depois de permitir apenas um remate enquadrado na primeira parte, quis mostrar quem mandava em campo. Seguro, sem tantas loucuras, com laterais comedidos (Esgaio, Matheus Reis e depois Nuno Santos), arranjaram-se os desequilíbrios nas danças de Trincão e Edwards. A parceria que vingara no lance do 1-0, antes de Gyokeres arrancar furioso para o golo, renasceu: Trincão ganhou um penálti e Edwards distribuiu chocolates, ludibriando adversários inocentes. O Sporting não marcou, nem de penálti: o primeiro desperdiçado por Gyokeres. Ainda não chegou o golo 30 para o bombardeiro. E o facilitismo de chegar rápido ao perigo inebriou os leões. Parecia tão fácil marcar – como tem sido – que até os adeptos não foram ao desespero por ver um tiro dos 11 metros defendido. Aplaudiram o sueco, convictos de que tudo estava fechado. A eliminatória, sim, nunca correu perigo, mas o jogo tombou quando o comandante do porto tirou folgas.
Hjulmand saiu aos 63’ e aqueles duelos invisíveis que são todos do dinamarquês passaram a cair para o Young Boys. Daniel Bragança desperdiçou três golos feitos, mas foi no capítulodefensivo que saiu mastigado nos últimos 30 minutos. EKoin dr edi foi um novato ainda em termos de posicionamento, sem dar os equilíbrios que até uma equipa dominante precisa.
A desestabilização desse eixo à direita, com Koindredi de cabeça no ar, Fresneda ainda sem ritmo e Neto de pé desacertado, levaram Edwards a socorrer... com a mão e a cometer penálti. O empate aos 84’ representava a subida do ultimamente crónico campeão suíço, que sabe tratar a bola. Mas também a incapacidade do Sporting na hora de matar o jogo, a tempo e horas. Com três chances claras até ao apito final, o leão saiu a lamentar o desperdício. Deu para descansar Gonçalo Inácio ao intervalo, deixar Geny e Coates no banco e só gerir o físico de Pedro Gonçalves e Nuno Santos, tudo a pensar no difícil jogo em Vila do Conde daqui a dois dias. O apuramento europeu foi fácil, o bilhete saiu barato e quando se paga menos sabe-se que não há sempre direito a menu completo. Faltaram golos ao festim. Nada que abale.