A lenda de Rei Artur
Artur Jorge morreu ontem aos 78 anos, mas há muitas décadas que já tinha garantido um lugar na galeria dos eternos do futebol português.
Há toda uma geração de adeptos que não sabe que Artur Jorge queria que as suas equipas fizessem coisas bonitas. Mas mesmo essa geração, que nunca o ouviu falar como nenhum treinador falava sobre futebol, já viu as coisas bonitas que as equipas dele faziam, porque o belo é eterno. Mesmo essa geração, mais nova, já viu, provavelmente mais do que uma vez, o toque de calcanhar de Madjer em Viena a fazer o golo mais icónico do futebol nacional. Artur Jorge foi o primeiro treinador português a vencer a Taça dos Clubes Campeões Europeus, recolocando Portugal no mapa do futebol continental, mas essa é apenas a ponta do iceberg de um homem que foi tudo. Um herói na Académica, que jogava pela democracia em tempos de trevas. Um ídolo do Benfica, onde conquistou quatro títulos nacionais e duas Taças de Portugal. Um ícone do FC Porto, que levou ao topo da Europa e onde ajudou a lançar as bases para o clube reclamar a hegemonia do futebol português ao longo das décadas seguintes. Uma referência da Seleção Nacional, como jogador e selecionador, maior do que qualquer falta de respeito de quem, à sua beira, não passa de uma nota de rodapé. Mais do que isso, foi um democrata e um revolucionário, fundador, primeiro presidente e sócio número 1 do Sindicato dos Jogadores, com a coragem que isso implicava em plena ditadura. Para aqueles que não testemunharam Artur Jorge na primeira pessoa, a forma como ontem foi homenageado de forma transversal e unânime prova até que ponto foi uma daquelas raras personagens maiores do que quaisquer divisões clubísticas. Artur Jorge morreu ontem aos 78 anos, mas há décadas que já tinha reservado um lugar no clube dos eternos do futebol português.