Entre a “posse consentida” e a “posse conquistada”
1A teoria dos estímulos táticos e competitivos aplicados a um jogo, um treinador e uma equipa.
É comum dizer que “jogo mais importante é sempre o próximo” mas quando uma equipa vive a maior parte do tempo num habitat competitivo tão desequilibrado como é o do nosso futebol português, essa tese cai ao imaginar a maioria dos jogos onde a vitória é apenas uma formalidade que, pensa-se, irá surgir com maior ou menor naturalidade Talvez por isso surjam alguns desaires inesperados porque esse estímulo de concentração e execução dum plano de jogo pensado com todos detalhes táticos está, naturalmente, mais centrado nos grandes confrontos que exigem toda essa entidade conjunta treinador-jogadores. É tão humano como futebolistico. 2
Conceição preparará todos os jogos com igual vontade de ganhar mas é quando surgem os grandes desafios (nacionais e sobretudo internacionais) que o pensamento para todos os momentos do jogo atinge o máximo. Internamente, nos jogos com adversários ditos mais pequenos, o momento de organização e transição defensiva fica, na prática do jogo pelos... jogadores, secundarizado em nome do momento ofensivo quase sempre continuado. Por isso surgem desequilíbrios como, vendo o mais recente, de Arouca.
Nos clássicos e na Europa, a equipa já não se conecta e desconecta assim mentalmente no jogo e tudo é tratado com um bisturi tático por todos em campo. Então, o rigor da organização defensiva (e imediata recuperação posicional pós-perda da bola, a transição defensiva que tem de ser sempre rápida) atinge níveis táticos cirúrgicos. No cenário-Champions, este jogo com o Arsenal (como contra o Braga, internamente) foi o exemplo perfeito como base duma vitória e sobretudo exibição taticamente sem sombra de qualquer pecado.
3Deu a “posse consentida” aos ingleses moldados pelo “Arteta guardioliano” e soube esperar os momentos certos para, quando tinha a “posse conquistada” , soltar o ataque, no qual manteve os extremos rebeldes sem ceder à tentação de meter mais um médio (mesmo como falso ala).
Para poder manter esta identidade de estrutura e características dos jogadores em cada posição, este 4x3x3 ofensivo recuava rapidamente (para um bloco médio-baixo) fazendo linha de “5” a meio-campo onde os três médios alinhavam quase de perfil (e não em triângulo com vértice de pressão) chefiados pelo farol Varela, uma referência para todos peregrinos em seu redor e a ir nas dobras a problemas atrás ou perto. Com esta base (plano pensado de jogo) e concentração (operacionalização perfeita), o onze foi uma “maquina tática” que não concedeu um remate ao Arsenal que vinha de tantas goleadas.
No último suspiro, um remate em parábola de Galeno, meteu no resultado um golo quase bíblico. Agora, falta Londres e um plano tático para uma noite de nevoeiro.*