Porque Aursnes é tão importante no Benfica
1Quando um jogador dito essencialmente operário, daqueles que se destacam pela chamada intensidade de pressão e recuperação (indo a todas as bolas e ganhando a maioria), se torna o mais importante na exibição duma equipa durante o jogo, tal diz muito sobre que tipo de jogo estava essa equipa a jogar e os problemas que tem.
É neste contexto que Aursnes se torna um jogador tão importante no Benfica. Em Toulouse, em vez do criativo que tinha em campo (David Neres), um jogador capaz de, com fintas e jogadas individuais, marcar a diferença no um-para-um, a equipa, sufocada atrás, precisava antes dum soldado tático coletivo para travar o adversário em vez de o atacar. Assim, Aursnes entrou, pouco depois da hora de jogo, e adquiriu a importância tática vital de estabilizar a equipa e estancar o perigo que o onze gaulês criava, sobretudo por aquele flanco.
2Qualquer equipa necessita, naturalmente, de ter equilíbrio entre os seus diferentes tipos de jogadores (dos criativos tecnicistas aos operários táticos) mas quando isso, por maioria de razão, * sucede numa chamada equipa grande, tal coloca essa exibição mais em debate.
No caso do Benfica é, porém, uma questão mais conceptual do jogar da equipa do que um problema específico (desequilíbrio entre essas diferentes espécies de jogadores) que sucedia num jogo.
O prisma de avaliação está na falta de bases sólidas do seu modelo de jogo para ligar os seus diferentes momentos, sobretudo na transição defensiva, algo que, neste caso, tem paradoxalmente origem na forma como ataca (e perde a bola nesse momento). Então é necessária a chamada intensidade entendida como o poder de estar sempre em cima da bola o mais rapidamente possível após a sua perda e, na sua posse, com mais traços da agressividade para lances divididos quando deviam ser para ter uma posse controladora, construtiva e, depois, com liberdade para criar no ataque sem o receio de quando perder essa posse, vá logo sofrer demais defensivamente. Desequilibrando-se nesse momento, esteve perto de perder a eliminatória contra um adversário inferior subitamente crescido em cima dessas suas deficiências de cobertura recuperadora.
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Aursnes é, sem dúvida, um bom “jogador de equipa” sem se revelar especialista em nenhuma posição mas assumindo-se em todas com um sentido de responsabilidade que faz o sossego de qualquer treinador. Um multifunções demasiadas vezes acima de qualquer criativo ofensivo nas necessidades sentidas pelo modelo de Schmidt, que mais do que a ideia de jogo não consegue acertar na interligação das onze teclas certas dos jogadores para a interpretar.
Num cenário destes, o jogador mais importante deixa de ser o criativamente mais forte para ser o pressionante e ganhador de duelos mais intenso. É a essência de equipa grande virada ao contrário.