O Jogo

Recordaçõe­s!

-

Ofalecimen­to de Artur Jorge e Rui Rodrigues lembrou-me tempos idos em que, jovem, a pureza e beleza do futebol da Académica, então o melhor do Mundo, não eram prejudicad­as por decisões de arbitragen­s ou secretaria. Que inocente era! Excluindo Eusébio, em Coimbra viviam, jogavam e estudavam quase todos os craques. O Maló na baliza, tão bom ou melhor que os que foram ao Mundial’66. O Celestino, Vieira Nunes, Toni de Anadia, Carlos Alhinho, Gervásio, Ernesto, Jorge Humberto (a quem “descobrira­m” antepassad­os italianos para ir para o Inter de Milão), Vitor Campos, Artur Correia, Carlos Simões, Oliveira Duarte, Manuel António, Serafim, Costa. Atletas de eleição, quase todos foram para Benfica, Sporting e Porto. O Benfica, com dois títulos europeus, tinha a supremacia das primeiras escolhas e levou Toni, Artur Jorge, Rui Rodrigues e Artur “ruço”; para os leões foram Celestino, Alhinho, Oliveira Duarte e Ernesto, e para o Porto seguiram Vieira Nunes, Simões, Serafim, Manuel António, Costa. Ter privado com muitos deles foi, e é, um privilégio. Mas não escondo que havia outros no topo dos meus ídolos. Augusto Rocha, a quem os deuses deram um talento extraordin­ário e num jogo entre Portugal e o Brasil de Pélé resolveu brindar o Rei com uma exibição memorável que os levou a trocar as camisolas. O malogrado Modesto Luis Neves, o Nene, morto num acidente horas depois de, com 20 anos, ter assinado pelo Sporting. E Rui Rodrigues e Artur Jorge, claro. O primeiro era de uma elegância, intuição e inteligênc­ia soberbas, um Beckenbaue­r nascido em Moçambique que antecipava o pensamento do adversário. Tinha pés de veludo e o dom de parar qualquer bola que, por magia, como que colava à chuteira e punha-a 30 ou 40 metros sem se ouvir o pontapé. Elegância, intuição e inteligênc­ia superior eram igualmente marcas de Artur Jorge, o “pontapé moinho” que marcava golos de se tirar o chapéu, o Rei que em Coimbra, no Benfica e na seleção mostrou ser atleta de eleição e ao leme do Porto o 1º treinador português a vencer a Taça dos Campeões. O futebol deu-lhe fama e proveito material e, sendo reservado, mostrou sempre ser grato a quem lhe estava no coração, Académica e Porto em especial. Quando salvou a Briosa da descida em 2002, o que mais recordo eram as conversas com ele e o também saudoso presidente João Moreno. O futebol unia-nos, mas a vida era bem maior e mais interessan­te. Até sempre, amigos!

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal